Iniciativa retrata para os alunos do Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira a
negritude para além do período escravocrata
Por Everton Victor
Com a missão de uma educação antirracista, o projeto de ensino Por uma Didática Racial, coordenado pelo professor Luiz Paulo Borges, apresenta intelectuais negros para os alunos da educação básica do Cap-Uerj. O projeto se realiza por meio de um resgate da história afro-brasileira, que, apesar de leis garantirem a obrigatoriedade, não estão presentes nos currículos escolares.
Por Uma Didática Racial surgiu em 2016 e foi implementado em 2017, dentro do projeto de extensão Circularidades da escola, que é composto por diversos sub-projetos, que abordam raça, classe e gênero. Para o professor Luiz Borges, a importância do projeto está no seu intuito emancipatório e de resgate a uma história por vezes apagada. “A escravidão é um fato histórico, mas a nossa história não começa na escravidão, a gente não pode reforçar isso nos currículos”, afirma.
Lélia Gonzalez, Beatriz Nascimento, Ricardo Nogueira entre tantos outros intelectuais negros, estruturam o conteúdo bibliografico do projeto, enquanto a abordagem varia de acordo com a série da turma, abrangendo alunos do fundamental I e II. Os bolsistas e o coordenador estruturam o ensino por meio de pesquisa e leitura de intelectuais negros e suas contribuições, junto com o convívio semanal nas salas de aulas do Centro de Aplicação da Uerj.
Esse reconhecimento que vai além da sala de aula, sendo convidados para participar de eventos acadêmicos e congressos em Brasília, Maceió e na cidade do Rio. Visitar outros ambientes acadêmicos está no papel da Uerj e do próprio projeto de coletivizar o conhecimento, de acordo com o professor.. “A gente é de uma instituição pública, temos o compromisso político de uma educação pública, e, no nosso caso, uma educação pública antiracista”, reforça.
“A gente está falando do exercício da prática de uma lei que é obrigatória no Brasil”, explica Borges. A lei n°10.639, de 2003, a que o professor se refere, instituiu a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira nas escolas em todo o território nacional. Cinco anos depois, a lei n° 11.645, de 2008, reforçou a obrigatoriedade do ensino da história e cultura no ambiente escolar, obrigações que não se concretizaram integralmente.
A primeira vez que a justiça decidiu apurar o cumprimento da lei foi em 2018, em decisão da 4a Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. A iniciativa foi tomada após o pedido do Instituto de Pesquisa e Estudos Afro-brasileiros (Ipeafro) e do Instituto de Advocacia Racial e Ambiental (Iara) ser impetrado na Corte.
Para Elielton Zidane, estudante de história na Uerj e bolsista do projeto, o efeito do Por Uma Racial vai além da sala de aula, na construção individual de empoderamento desses alunos, pois“a educação é um campo que emancipa saberes e sobretudo o indivíduo”. Ele atribui a presença de pautas como essas no ambiente acadêmico à maior participação de pessoas negras, indígenas e da periferia em espaços de intelectualidade. “São negros que estão produzindo seja na academia, seja em espaços de educação não formativos, como quilombos e aldeias, também lugares de saberes”, conclui.
Guilherme (qual é o sobrenome?), também integrante do projeto e aluno de educação física na Uerj, vê o impacto da do projeto na sua própria vida: “Sinto que hoje sou uma pessoa racializada”. O bolsista relata uma de suas experiências no projeto no ano passado “Foi feito um trabalho com os alunos do sétimo ano do ensino fundamental (...) foi uma experiência muito rica, pude absorver como era possível pavimentar o caminho para que cheguem esses outros saberes”.
O projeto também desconstrói a ideia de que o ato de escrever e a literatura que forma a sociedade brasileira não é só europeia, mas também negra e indígena, e leva essas discussões para suas redes sociais. No instagram, o Por Uma Didática Racial traz diversas pesquisas sobre a cultura africana, a história de intelectuais negros, além de dicas literárias e indicações de filmes. Ao todo, a rede conta com mais de 1200 seguidores, o que Guilherme atribui ao “movimento de enegrecer nosso pensamento e transmitir através das redes sociais para outras pessoas”.
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