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  • Foto do escritorAna Cândida

Resenha | Última Parada

Romance sáfico explora um relacionamento que rompe os limites do tempo


Última Parada é um romance new adult escrito pela autora Casey McQuinston, mesma escritora do livro Vermelho, Branco e Sangue Azul. Lançado no Brasil em 2022 pelo selo jovem da Companhia das Letras, a Editora Seguinte, o livro conta a história de August, uma jovem bissexual que passou grande parte da vida mudando de lugar para lugar, buscando um senso de pertencimento e estabilidade. No entanto, tudo se tranforma quando ela decide se mudar para um apartamento compartilhado com pessoas LGBTQIA+ excêntricas. A vida da protagonista, que era de certa maneira monótona, muda completamente quando ela conhece a misteriosa “Garota do Trem” e a partir desse momento August entra numa jornada de autoconhecimento.


O livro possui bastante diálogos, esse artifício contribui para que o leitor se aprofunde na história e entenda a personalidade de cada personagem. Grande parte da narrativa se passa no metrô, envolvendo conversas e acasos entre as protagonistas August e Jane. A maneira em que a autora detalha o cenário e a ambientação da história pode causar uma conexão entre pessoas que dependem do transporte público em seu dia a dia. Embora a trama envolve conceitos de física para explicar a situação peculiar da personagem Jane, a McQuiston consegue tornar esses elementos acessíveis, permitindo que todos os leitores compreendam e apreciem a história em sua totalidade.


August é uma personagem genuína e cativante, o leitor consegue se conectar com com suas inseguranças e até mesmo com as situações inusitadas que ela enfrenta no cotidiano. O fato dela ser uma universitária estabelece uma conexão direta com o público alvo do livro (+16). A própria personagem tem dúvidas sobre seu futuro acadêmico e profissional, mas isso não a impede de lutar pelos os seus sonhos. Mesmo quando a garota toma decisões duvidosas dá para compreender o motivo de suas impulsões. August é uma personagem em que o leitor cria uma relação de identificação e descobrimento, já que o romance conta as suas jornadas de autodescoberta, crescimento pessoal e busca por amor e felicidade


Por outro lado conhecemos Jane, uma garota lésbica com descendência asiática. Jane é a clássica personagem punk que não leva desaforo para casa e participa de inúmeras manifestações a favor dos direitos humanos, principalmente da comunidade LGBTQIA+. A personagem aborda também no livro questões como responsabilidade afetiva, xenofobia e abandono familiar, contudo, por trás de sua fachada durona, Jane revela camadas emocionais e vulnerabilidades que a tornam cativante. À medida que o leitor descobre sua história e motivações, é impossível não torcer para que tudo dê certo para ela, pois sentimos que uma pessoa como Jane merece um final feliz.


Arte de divulgação do livro mostrando as personagens principais

Divulgação: Editora Seguinte


Apesar do livro ser focado em um relacionamento entre duas mulheres, ele não descarta a presença de outros tipos de representatividades LGBTQIA+. Com outros personagens, a autora insere elementos da cultura drag, como as apresentações artísticas feitas pela personagem Annie Depressiva. Essa inclusão não é superficial, pois a presença da cultura drag se encaixa organicamente na narrativa, evidenciando a amplitude da comunidade queer. Além disso, a presença de um personagem trans é outra demonstração da intenção da autora em abordar e celebrar a diversidade em suas diversas formas. A maneira como essas características são tratadas de forma autêntica e bem trabalhada evidencia o compromisso da autora em representar diferentes tipos de pessoas.


Uma característica interessante da relação entre as protagonistas Jane e August é a diferença das décadas em que nasceram. Jane viveu nos anos 70, uma época marcada pela opressão e preconceito contra a comunidade LGBTQIA+. Já August nasceu nos anos 2000, um período em que, embora ainda não completamente livre da homofobia, foram conquistados diversos direitos. Essa diferença temporal entre as personagens permite levantar um debate relevante: graças a pessoas como Jane, que lutaram por direitos em um momento muito mais difícil, atualmente mulheres como August têm a possibilidade de andar de mãos dadas com suas namoradas nas ruas sem medo ou restrições.


Última Parada é um romance que se destaca ao celebrar o amor em suas diversas formas, trazendo uma abordagem que quebra o ciclo vicioso no qual histórias envolvendo personagens sáficas são retratadas apenas de maneira negativa ou fetichista. Neste livro, Casey McQuinston, apresenta as personagens August e Jane, que, apesar de vivenciarem uma sensação de solidão interna, encontram uma na outra um propósito, unindo forças para superar obstáculos e buscar a realização de seus desejos. Ao longo das 400 páginas, a escritora demonstra com maestria o verdadeiro significado da comunidade LGBTQIA+, retratando-a como uma rede de apoio e acolhimento para aqueles que necessitam de auxílio ou simplesmente de alguém ao seu lado.



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