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  • Foto do escritorSimone Nascimento

A queda de braço entre desenvolvimento e preservação

Após oito anos de assinatura, Agenda 2030 teve poucos avanços



Imagem de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável - Reprodução: Freepik


O velho dilema entre preservação e desenvolvimento toma proporções ainda maiores diante dos recordes de temperatura registrados ao longo deste ano e deixa evidente o que estudos afirmam há anos: o aquecimento global provocado pela ação humana é uma realidade e não há como reverter esse quadro.  Assinada em 2015 durante a Conferência da  Organização das Nações Unidas (ONU), a Agenda 2030 possui 17 itens em Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), incluindo o de número 12, que trata  do consumo e produção sustentável. Porém, desde a criação da agenda foram poucos os avanços, principalmente entre os países emergentes. 


As economias em desenvolvimento estão entre as que mais utilizam os recursos energéticos não renováveis e, de modo geral, são as que têm pior desempenho em preservação ambiental. Especialistas alegam que a falta de vontade política e o lobby de empresas são os maiores obstáculos para alcançar um desenvolvimento sustentável e uma matriz energética mais limpa. Estudos afirmam que o desenvolvimento sustentável só é possível com uma mudança na forma de produção e consumo de bens, produtos e energia. Outros pontos defendidos são, a transição energética justa, e o estímulo à bioeconomia. 


O exemplo mais emblemático da produção em excesso e do não cumprimento do décimo segundo item das ODS é a exportação de todo tipo de resíduos para os países mais pobres. Há um “cemitério” de roupas no deserto do Atacama, no Chile, e um de lixo eletrônico em Gana. Diversas nações europeias enviam resíduos domésticos e até tóxicos a alguns países subdesenvolvidos. 

Antônio Carlos Oscar Júnior, Professor Adjunto do Departamento de Geografia Física da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) aponta que o modelo atual de produção causa uma enorme pressão sobre os recursos naturais, além de desigualdades sociais. “Definitivamente a gente pode dizer que as mudanças climáticas que a gente experimenta hoje são sim fruto do sistema capitalista, seja pela produção em excesso, seja pelo consumo em excesso, e a população mais pobre é atingida de forma mais intensa”, afirma Oscar Júnior.


Aliny Patrícia Pires, Professora Adjunta do Instituto de Biologia Roberto Alcântara Gomes (Ibrag), ressalta a importância do desenvolvimento com  base na biodiversidade e na preservação ambiental. A professora salienta que  essa mudança demanda um certo ajuste de estratégia para a criação de cadeias produtivas desenvolvidas com uso da ciência e tecnologia. Pires cita a Amazônia com sua grande biodiversidade para implementação de uma bioeconomia, um modelo de desenvolvimento econômico que explora o bioma de forma racional enquanto gera renda para a população local. Além disso, na bioeconomia os recursos fósseis e não renováveis são substituídos por matéria-prima biológica.  Uma outra questão a ser revista, é a produção de energia hidrelétrica que, apesar de ser considerada limpa, causa impactos sociais e ambientais em sua implementação. 


Especialistas asseguram que ter uma boa legislação ambiental, assim como a do Brasil, não é o suficiente. É necessário, segundo eles, o fortalecimento das instituições que fiscalizam e combatem crimes ambientais. Os especialistas ressaltam ainda que é preciso cooperação entre as nações no desenvolvimento de tecnologias que possibilitem  um modo de produção sustentável e ampliação da matriz energética limpa.


Diante da emergência climática, entidades reafirmam a necessidade de adotar medidas para um desenvolvimento sustentável. A concentração de gases de efeito estufa (GEE), emitidos principalmente pelo setor industrial, atingiram níveis recordes e a quantidade de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera nunca esteve tão alta. A taxa de CO2 atual é 50% maior do que na era pré-industrial, resultado do grande consumo de combustíveis fósseis. É o que revela o último relatório divulgado em meados de novembro pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), uma das agências da Organização das Nações Unidas

(ONU).




Imagem de aerogerador e paínel solar - Reprodução: Freepik

 


Conforme dados de 2022 da  Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês), quase 60% da matriz energética mundial é composta principalmente de carvão e petróleo, duas fontes não renováveis e extremamente poluentes. Apesar do Brasil ter a produção de energia composta em quase 50% de fontes renováveis, principalmente pela geração em hidrelétricas, é apontado como o 4° maior emissor de GEE pelo ThinkTank Carbon Brief.


A transição energética justa inclui todas as nações, e é uma mudança gradual do uso de recursos energéticos fósseis para fontes de energia renováveis e limpas. Desse modo, os modelos de produção de energia devem ser economicamente viáveis e adequados à realidade geográfica de cada país. Além da energia hidrelétrica, outras fontes renováveis são, biomassa (obtida no processo de matéria orgânica),  eólica (produzida pela ação dos ventos), geotérmica (originada pelo vapor quente do interior do planeta), maremotriz (proveniente das ondas) e solar. Segundo estudo da Nature Communications, até 2050 a previsão é de que a produção mundial de energia eólica seja 10 vezes maior que a atual e que a energia solar represente 56% da produção energética.


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