Indústria da moda é considerada uma das mais poluentes do mundo segundo levantamento publicado pela Global Fashion Agenda. Entenda medidas que tentam resolver este problema
O consumo consciente auxilia a preservação do meio ambiente. Imagem: FreePik
Você já pensou como é desenvolvido a produção de roupas e o impacto disso para o meio ambiente? Mais de 92 milhões de toneladas de resíduos têxteis foram descartados em anos recentes, segundo levantamento publicado pela Global Fashion Agenda, organização sem fins lucrativos. A decomposição de roupas pode levar até centenas de anos quando produzidas com fibra sintética, e seus componentes químicos podem contaminar o solo e a água.
O impacto da produção e de seus resíduos no meio ambiente tem estimulado alternativas, como a chamada moda sustentável. Carol Lardoza, de 26 anos, Historiadora da Moda formada pela UFRJ, explica que a moda sustentável se preocupa em investigar os processos de produção de roupas, calçados, entre outros objetos, mas também se essa atividade leva em conta o respeito ao meio ambiente e aos trabalhadores. “Muita gente acha que moda sustentável está só relacionada a preocupações ambientais, quando na verdade a gente pensa um olhar muito macro relacionado à sociedade. Então vemos os processos, quem faz as roupas, como estão sendo remunerados; se essa moda é muito acelerada e por que ela é acelerada dessa forma”, explica.
Lardoza afirma que é preciso atentar para a questão social da moda e todos os seus processos. “A moda sustentável propõe um novo olhar, um novo ritmo para a moda, que a gente chama de “slow fashion", que é essa moda desacelerada, pensando em todos os pontos de produção, a qualidade dos produtos, a entrega desses produtos, tudo isso é moda sustentável, não só a questão de poluição do meio ambiente, mas também todas as lógicas sociais e de processos que envolvem a produção de moda hoje e o consumo também”.
O “slow fashion” é o oposto do “fast fashion”, ou seja, a “moda rápida”, que consiste em um padrão de produção e consumo no qual as vestimentas são fabricadas, consumidas e descartadas de forma extremamente rápida, gerando problemas ambientais. No “slow fashion”, o foco é a fabricação de roupas e acessórios que respeitem o meio ambiente e aos animais.
A poluição da moda: o jeans é uma das peças mais poluentes
Um exemplo de poluição causada pela moda é a produção de uma famosa peça de roupa, o jeans. Você já parou pra pensar em sua produção e descarte? Fazer um par de jeans requer cerca de 7,5 mil litros de água, o equivalente à quantidade que uma pessoa média bebe em sete anos, aponta relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
O Brasil é um dos maiores fabricantes de jeans no mundo. Atualmente são fabricados dois tipos de jeans no país. O primeiro é o tipo premium, feito 100% de algodão e com tingimentos, acabamentos e modelagens, mas com um preço mais elevado. O segundo é o jeans misto, usado no dia a dia, que é composto de algodão com poliéster, as vezes contendo poliuretano, conhecido como lycra, para dar uma maior flexibilidade. Esses dois tipos de jeans são tingidos com corantes sintéticos, que contêm poluentes, ou não são tingidos, caso do jeans branco.
O jeans misto é o mais produzido no Brasil, por ser mais barato e mais resistente. A presença do poliéster e poliuretano nessa peça dificulta as possibilidades de reciclagem além de ter uma decomposição problemática: enquanto o algodão em mais ou menos três anos se decompõe, o poliéster e o poliuretano levam mais de 400 anos.
Como praticar uma moda mais sustentável?
Carol Lardoza mantém uma página no Instagram com 23 mil seguidores. A influenciadora divulga conteúdos para conscientizar a população a respeito da moda. “Fiz história e o meu TCC foi sobre história da moda. Então sempre percebi que a moda impacta diretamente na vida das pessoas e tem um recorte social, econômico e cultural muito demarcado. Então como explicar isso para as outras pessoas? Foi aí que surgiu a ideia do meu perfil onde pego esses conceitos e aproximo da realidade das pessoas”, diz Lardoza.
Para a historiadora, a forma mais simples de praticar a moda sustentável é conhecer o próprio hábito de consumo e verificar se ele é ambientalmente sustentável. “Primeiro, conhecer seu estilo pessoal. Em segundo lugar, estar mais próxima dessas causas, seguir pessoas que explicam sobre moda sustentável, tirando a ideia de que sustentabilidade é só para quem pode pagar caro”, defende.
Carol Lardoza vestindo camiseta em parceria com uma marca sustentável. “Se vestir é um ato político”. Foto: Acervo Pessoal
Repetir roupa é legal para o planeta
Melody Von Erlea, de 36 anos, moradora de São Paulo, tem desde 2017 uma espécie de blog no aplicativo instagram intitulado “repeteroupa”. A iniciativa, como sugere o nome, seria a de praticar cada vez mais o hábito de repetir peças de vestuário de seu guarda-roupa. O blog tem como objetivo estimular o olhar para uma vida com menos consumo, diz Melody. Hoje em seu perfil, Melody registra 99 mil seguidores. “Meu blog surgiu como um projeto pessoal - eu queria registrar a minha jornada tentando me entender como uma consumidora melhor, mais consciente, e mudar a relação que eu tinha com roupas e consumo no geral”.
Melody afirma que a ideia inicial não era a de se tornar influente para outras pessoas, e sim usar a rede social como um diário, mas ficou surpresa ao notar que o blog começava a influenciar a percepção de outras pessoas. “A ideia do RR (repeteroupa) não é tentar convencer ninguém a fazer o mesmo que eu, mas mostrar minhas escolhas de moda e utilizar meu guarda-roupa em todo seu potencial. Que pessoas se identifiquem com a proposta, pensem como eu e queiram, também, uma relação mais saudável com consumo e roupas segue constantemente me surpreendendo!”
Melody no ínicio de seu blog em 2017, toda semana ela escolhia uma peça do armário e usava a semana inteira. Foto: acervo pessoal
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