Projeto de extensão homenageia os maiores nomes do samba carioca em atividade
Imagem: Evento no Teatro Odylo Costa, filho - Fonte: Acervo Universitário do Samba
Todo amante do samba conhece “Pisa Como Eu Pisei”, “Aquarela Brasileira”, “Caciqueando”, mas nem todos conhecem os autores dessas obras. Com o objetivo de acabar com essa invisibilidade, surgiu em 2015 o “Acervo Universitário do Samba”, um projeto de extensão vinculado à Diretoria de Comunicação Social (Comuns) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). A pequena equipe comandada pela Professora Andressa Elisa Lacerda e pelo Professor Luiz Ricardo Leitão produziu oito livros desde a fundação.
O Acervo visa registrar o legado dos maiores nomes vivos da história do samba. Saindo do lugar comum, o projeto homenageia essas personalidades que ajudaram a consolidar a cultura do samba carioca e do Carnaval através de ricas biografias, muitas delas com detalhes inéditos. A equipe faz um extenso e minucioso trabalho de pesquisa, entrevistas com biografados e de pessoas próximas, além da coleta de material de diversas origens.
O Professor Luis Ricardo Leitão, talvez por sorte ou obra do destino, foi convidado a escrever a biografia de Aluísio Machado, porém o projeto não se concretizou. Ilana Linhares, à época responsável pela Coordenadoria de Artes e Oficinas de Criação (Coart) da Uerj, ciente da situação e da dimensão da figura a ser biografada, propôs ao Professor Leitão a criação de um projeto de historiografias do mundo do samba. Estava plantada a semente do Acervo Universitário do Samba.
Flores em vida
Imagem: Biografias produzidas pelo Acervo Universitário do Samba- Fonte: Acervo Universitário do Samba
No auditório da Coart em 2015, cerca de cinquenta pessoas compareceram ao lançamento do volume 1, que contou com a presença do biografado, Aluísio Machado. Entre as obras mais importantes de Machado estão, “Bum Bum Paticumbum Prugurundum” (1982), “Eu Quero” (1986) e “Pisa Como eu Pisei” (1988) em parceria com Beto Sem Braço e Zeca Pagodinho, Zeca se tornou o primeiro intérprete da música. O Império Serrano levou as duas composições para a avenida, foi campeão em 1982, em 1986 levantou o público com uma letra que criticava a ditadura.
“Essas pessoas precisam ser reconhecidas. Foi uma decisão consensual de todos que fazem parte do projeto, de homenagearmos essas pessoas, essas escolas, a maioria de origem humilde e que resistiram com sua arte, inclusive aos anos bicudos, os anos de chumbo da ditadura. Queremos resgatar memórias, dar flores em vida”, conta Leitão.
Andressa Lacerda salienta que o projeto não se prende apenas na produção musical dos biografados, os livros também fazem o que o grupo chama de cartografia afetiva. Essa cartografia consiste na montagem de um mapa que destaca os locais frequentados pela personalidade, seja para trabalho, compras ou diversão.
O projeto tem uma ampla gama de material, são incontáveis horas de entrevistas, composições, milhares de imagens, algumas cedidas pelos próprios biografados e familiares, algumas fotografias foram doadas por Wigder Frota e Valéria Del Cueto por solidariedade ao projeto. Rosa Magalhães doou para o Acervo 5 mil desenhos que criou ao longo de sua carreira. A biografia da carnavalesca foi ricamente ilustrada com apenas uma pequena parte desse material.
Leitão conta que esteve à frente do projeto até a sua aposentadoria, a partir daí o comando ficou com Andressa Lacerda. Ele fala sobre o projeto com grande carinho, mas revela que 2024 é seu último ano como membro oficial do Acervo. O professor pontua ainda que o projeto está bem encaminhado e recebe muito apoio da Uerj, segue com várias propostas para modernização e ampliação do alcance do público alvo. O livro deste ano é uma biografia de uma escola de samba, “Salgueiro, O Quilombo Moderno”, para 2025 teremos “Samba nas Ondas do Rádio”, que contará a história do rádio no Brasil com foco em três grandes radialistas, passando também por grandes nomes como, Ary Barroso e Carmen Miranda.
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