Restaurante de Comida Afro-Brasileira em Vila Isabel reúne boa comida, eventos e empreendedorismo afro
Etimologia das palavras que compõem a culinária do Angurmê - Foto: Leonardo Medeiros
A mistura de culinária, rodas culturais e empreendedorismo do povo negro é o que destaca o Angurmê como o principal point em Vila Isabel que consegue reunir todos esses atributos, é o que diz Maria Júlia Ferreira, designer gráfica, cofundadora da kaza123 e chefe de cozinha. O local surgiu de forma casual, como relata a chef, que procurou unir o útil ao necessário buscando um espaço fixo que pudesse abrigar as atividades que já exercia, como eventos, trabalhos em design cultural e também culinária.
O que começou com um trailer, hoje é um espaço que abriga a cozinha do Angurmê, um ambiente para exposições, a kitabu livraria, Andreia Brasis Turbantes e Acessórios e a grife carioca, Complexo B. Atualmente está sendo exposto no ambiente alguns quadros do artista plástico afro-americano, Steve Allen e a Kaza123 está negociando mais outra exposição com outros três fotógrafos.
Espaço interno do restaurante - Reprodução/ Instagram: @kaza123____
O ambiente é riquíssimo culturalmente e repleto de referências da cultura negra e afro-brasileira. Fotos de diversos artistas, músicos, cantores e esportistas estampam as paredes do lugar e reúnem mensagens de resistência e de orgulho do povo negro.
A designer destaca a importância pessoal de trabalhar com algo que traz para si o sentimento de pertencimento e identidade e que é capaz de contribuir também dessa forma com os que frequentam o ambiente. O Angurmê foi pensado esteticamente e projetado de uma forma que traga essa experiência da cultura afro-brasileira e dos saberes que essa cultura traz, como por exemplo o prato principal da casa, o angu, prato típico da culinária brasileira e que foi a base da culinária dos africanos escravizados aqui no Brasil.
Angu, prato principal da casa - Reprodução/ Instagram: @angurmeculinaria
Sobre a relevância do ambiente, a chef destaca que: “a cultura carioca é toda calcada na cultura negra, o Carnaval, por exemplo, que é uma das principais expressões culturais que traduz o Rio de Janeiro para o mundo, é da cultura negra, então acho que isso já traduz a importância de termos espaços de afro-empreendedores", diz Maria Júlia. Ela destaca a importância desse posicionamento na criação de mais empregos, geraração de empoderamento, de enriquecimento e de acesso à propriedade para o povo negro, que é algo que lhe foi negado pela história. “É muito importante e muito coerente, numa cidade e num país que temos a cultura toda calcada na cultura negra, mas você não vê essas pessoas protagonizando, gerenciando, administrando e enriquecendo com essa cultura, existe aí então um problema sério”, conclui ela.
Celebrando o Dia da Consciência Negra
O Angurmê reúne eventos, ações e participações voltadas para a cultura negra e com pessoas pretas. E no próximo dia 20 de novembro, será celebrado o Dia da Consciência Negra no local com uma feira de afro empreendedores, gastronomia afro-brasileira e a presença da velha guarda da bateria da mangueira, além da apresentação do DJ Wilton, que promoveu por muito tempo um baile charme no centro da cidade, e outras atrações. A data é dedicada à reflexão sobre o valor e a contribuição da comunidade negra para o Brasil, e, ainda que não seja feriado nacional, é oficializada como feriado em mais de mil cidades e seis estados brasileiros, entre eles o Rio de Janeiro. Nesse dia a comemoração será na rua, a chef já confirmou que solicitou o fechamento da Visconde de Abaeté, onde serão colocadas barracas e som fora do estabelecimento para a celebração.
É relevante também ressaltar que Vila Isabel tem diversas ruas com nomes de abolicionistas, e que a cultura do lugar está ligada a representantes importantes da cultura negra, como o cantor Martinho da Vila e a escola de samba Vila Isabel.
Parabéns linda matéria.