Escola pretende mostrar as consequências da “diáspora negra”
Por: Everton Victor e Manoela Oliveira
Carro Alegórica da Mangueira de 2020
Reprodução: Tomaz Silva/Agência Brasil
A Estação Primeira de Mangueira apresentou seu enredo para o próximo carnaval: “À Flor da Terra - No Rio da Negritude entre dores e paixões”, no dia 25 de abril. No dia 14 de maio, a Escola lançou a sinopse do enredo, próximo ao aniversário de 96 anos da escola. O enredo é assinado pelo carnavalesco Sidnei França, que fará sua estreia à frente da “Verde e Rosa” em busca do 21° título da agremiação.
Para além de homenagear personalidades negras, o carnavalesco reforçou que busca saudar todo um coletivo. Sidnei quer trazer a história e a riqueza da cultura bantu, e como ela está presente no que hoje se nomeia “Pequenas Áfricas”. Nessa trajetória de África para o Brasil, o carnavalesco também explora o Atlântico como um lugar de memória da própria negritude, como o enredo explica. “A água conduz as passagens e é no seu interior que estão guardadas a memória e os mistérios ancestrais”.
O objetivo do enredo é relatar as consequências da diáspora negra, que consistiu na imigração forçada de africanos durante o período escravocrata. Sidnei declara que deseja levar a cultura bantu para a Avenida, pois 75% dos africanos escravizados eram bantus. Os bantus englobam povos que habitavam principalmente a África Subsaariana, nas regiões de Angola, do Congo e do Gabão.
Capa oficial do enredo da Mangueira
Reprodução: Instagram da escola
De acordo com o carnavalesco, a Estação Primeira possui uma forte herança preta, sendo uma região que dialoga com a cultura bantu. “A gente pode entender que a Mangueira é uma Pequena África, porque foi ocupada por corpos negros que saíram da região central”, afirma. Por isso, o enredo “À Flor da Terra - No Rio da Negritude Entre Dores e Paixões” consegue trazer o protagonismo negro para a Sapucaí, segundo ele.
Para Sidnei, o enredo não irá prestigiar pessoas específicas ao longo do desfile, mas retratar as vivências de corpos negros na cidade do Rio de Janeiro como um todo. O carnavalesco conta que é preciso não apenas “denunciar o preconceito e a violência, mas também exaltar a cultura preta”. O desfile irá homenagear as contribuições do povo bantu, como suas influências linguísticas, musicais e culturais.
Sidnei também reafirma o protagonismo negro no desfile, principalmente na construção narrativa. “Esse enredo não vai ser mostrado no desfile segundo a visão colonialista, vamos contar pela ótica e visão preta”. A intenção da agremiação é discutir as diferentes formas de apagamento da população negra, desde sua chegada forçada no Cais do Valongo, explorando a cidade como uma extensão do próprio Atlântico.
No próximo ano, as 12 Escolas de Samba do Grupo Especial serão divididas em três noites de desfiles, nos dias 2, 3 e 4 de março. A Mangueira será a última Escola a desfilar no primeiro dia de desfile. O enredo não apenas homenageia a história da Escola, mas também conta como a alma carioca “desafia a morte, celebra a vida e faz carnaval”.
O templo do samba contará com 10 das 12 Escolas abordando temáticas afro. Diversos recortes que exploram a negritude já foram anunciados no enredo e na explanação da sinopse. O orixá Logun-Edé, a primeira mulher trans não indígena do Brasil, o cantor Milton Nascimento, o sambista Laíla e o primeiro terreiro de candomblé no Brasil são alguns dos enredos que reforçam a diversidade cultural que será trazida para a Avenida.
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