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  • Foto do escritorAna Cândida

“Conversas Fiadas” celebra a arte do bordado no Brasil

Evento que inaugurou mostra itinerante debateu sobre o bordado como força política


O Centro Cultural da Uerj (COART) recebeu no último dia 9 de outubro o evento “Conversas Fiadas”. Durante toda tarde foram debatidos temas acerca da tradição do bordado e a luta política na qual o movimento se insere. A reunião contou com mais de 200 artistas, oficinas, músicas, dança, comidas típicas e outros elementos culturais. Além disso, a celebração também marcou a inauguração da exposição "Re-descobrindo o Brasil em Fios: 200 anos de histórias e memórias bordadas", com bordados dos municípios fluminenses. A mostra itinerante ficará exposta na Galeria da Passagem, na COART, até 11 de novembro. 


Oficina de bordado no “Conversas Fiadas” (Reprodução: Ana Cândida)


Inicialmente planejado para acontecer no Bosque da Uerj, o “Conversas Fiadas” teve que ser transferido para o Centro Cultural, por conta da forte chuva no dia. Essa mudança acabou por fundir o evento com a exposição, resultando na transformação do espaço em uma celebração dedicada ao bordado. Além da mostra "Re-descobrindo o Brasil em Fios”, os corredores do espaço também foram ocupados por obras de artistas independentes ou de coletivos do Brasil. As artes do “Conversas Fiadas” mostraram a versatilidade da arte do bordado, expondo bordados em panos de prato, toalhas, camisas, tear e até mesmo como livro de história. 


O evento “Conversas Fiadas” na COART também foi marcado pelo acontecimento de oficinas de bordado que ocuparam todos os corredores, convidando os visitantes a participarem ativamente. Durante o evento, foi organizada uma roda de conversa que promoveu a interação entre bordadeiras experientes e iniciantes, onde técnicas de bordado e princípios básicos foram compartilhados. A galeria da Passagem também sediou uma oficina próxima à exposição, onde os visitantes receberam um papel com a silhueta dos blocos da Uerj e foram convidados a bordar nele suas visões e desejos para o futuro da Universidade. 


No evento, o vestido "Nominata 365", feito por Carolina Medeiros, se destacou. Os visitantes que chegaram cedo ao “Conversas Fiadas” viram nomes de artistas, como Tarsila do Amaral e Yoko Ono, sendo costurados no vestido branco com linha vermelha. A ideia do vestido é incluir 365 nomes de artistas mulheres, conforme a pesquisa da bordadeira. Carolina trabalha nesse projeto desde 2019, após demonstrar interesse pelo bordado e se tornar autodidata. “Também trabalho com figurinos, então acredito que dessa forma eu consegui unir esses meus dois lados”, afirmou a artista. 


“Nominata 365” sendo bordado no “Conversas Fiadas” (Reprodução: Ana Cândida)


A exposição "Re-descobrindo o Brasil em Fios", com curadoria de Marisa Silva e Ricardo Gomes Lima, destaca as perspectivas sociais, culturais e políticas de 27 bordadeiras e bordadeiros sobre o estado do Rio de Janeiro. A mostra é resultado do projeto "Fio às Cinco em Pontos”, que começou durante a pandemia e incluiu 350 rodas de conversa centradas no bordado com artistas do Brasil e do exterior. “Esse projeto se transformou em uma exposição que vem itinerante pelo estado do Rio e seus municípios. A iniciativa também era uma maneira de promovermos a arte de pessoas em situação de invisibilidade”, explicou Ricardo Lima, curador da mostra. 


A exposição e o evento se concentraram no movimento dos "Bordados Políticos", no qual artistas usam a habilidade de bordar como meio de expressar opiniões e manifestações sobre questões do cotidiano. Isso transformou o ato de bordar, tradicionalmente visto como uma atividade feminina, em uma forma de arte política que ocupa espaços públicos e aborda diversas realidades. Importantes ativistas como Marielle Franco e Frida Kahlo são frequentemente representadas nos bordados, não apenas como símbolos do poder feminino, mas também como ícones das lutas sociais e políticas que elas encarnaram e continuam a representar até hoje.


Bordado feito pelo coletivo “Pontos de Luta” homenageando Marielle Franco (Reprodução: Ana Cândida)


Ricardo Lima, um dos curadores da exposição, diz que o “Conversas Fiadas” reafirma o potencial que a Universidade possui em atingir o interior do estado. “A Universidade do Estado do Rio de Janeiro não representa apenas a cidade. Com essa mostra, temos a chance de trazer para cá esses 27 municípios que compõem a exposição e mais um número enorme de pessoas”, explicou o professor. O curador também pontuou que, após a divulgação do evento, a Uerj recebeu propostas de outros municípios como Itaboraí e Tanguá, que demonstraram interesse em conhecer a mostra itinerante. 


O plano futuro do projeto envolve a expansão para mais municípios, com a meta de dobrar o alcance atual para o ano de 2024 e transformar o evento em algo maior. O “Conversas Fiadas” destaca as manifestações de pessoas que fazem bordado, e a equipe acredita que em municípios não visitados ainda há pessoas não reconhecidas por sua arte. Nos últimos anos, cada vez mais homens têm participado da arte, transformando o bordado em uma prática sem gênero. Com isso, o evento também se compromete com a igualdade de gênero, desafiando estereótipos de que o bordado é uma atividade restrita às mulheres.

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