top of page
  • Manoela Oliveira

Grande Tijuca é líder em perda populacional na cidade do Rio de Janeiro

Principal causa apontada por especialista foi o aumento do custo de vida na região

Por: Manoela Oliveira


A Zona Norte sofreu um esvaziamento populacional, de acordo com dados do Censo de 2022, compilados pelo Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos (IPP). Entre 2010 e 2022, a Tijuca e Vila Isabel foram os bairros com as maiores perdas de população, com a diminuição de 21.479 e de 20.228 habitantes, respectivamente. Segundo o estudo, o Alto da Boa Vista foi o único bairro da Grande Tijuca que aumentou o número de moradores, havendo um acréscimo de 488 habitantes. 


De acordo com o IPP, os cinco bairros do Rio de Janeiro que receberam mais moradores estão todos localizados na Zona Oeste, são eles: Jacarepaguá (66.685), Recreio dos Bandeirantes (59.076), Guaratiba (46.756), Santa Cruz (31.797) e Itanhangá (29.554). O estudo comprovou uma perda populacional no Centro e na Zona Sul, porém em números menores comparados com a Zona Norte. 


Para Vitor de Pieri, professor do Instituto de Geografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), o aumento do preço dos aluguéis é uma das causas do esvaziamento da Zona Norte. Ele explicou que: “A população acaba migrando em função de obter melhores condições de moradia a partir do valor do aluguel”. O professor afirmou que isso ocorre devido à gentrificação, que consiste na supervalorização de uma determinada área, acarretando um aumento no custo de vida naquela região.  


Vitor disse que os antigos moradores da Zona Norte estão se instalando em condomínios irregulares na Zona Oeste, como em Santa Cruz, por serem locais com terrenos mais baratos. Ele afirmou que: “O problema desse processo é que sobrecarrega o poder público”. O professor da Uerj citou a Lei 10.257, denominada Estatuto da Cidade, como uma forma do governo atuar nos diferentes pontos da cidade. Essa lei é responsável pelo planejamento urbano, atuando na organização espacial da população.  


Em variações percentuais, Turiaçu foi o bairro com o maior êxodo urbano, com a diminuição de 32,7% dos moradores, de acordo com o Censo. A perda de 5.633 habitantes pode ser explicada devido à remoção de famílias na região para a construção do Parque Madureira, segundo Vitor de Pieri. A fronteira entre Turiaçu e Madureira sofreu um esvaziamento, porque a comunidade Vila das Torres foi retirada para a construção do parque em 2010. 


O professor ressaltou que cada bairro da Zona Norte possui uma causa específica para a diminuição populacional, porém motivos como a gentrificação, as territorialidades do crime organizado, a escassez de políticas públicas e a falta de divulgação do Censo são essenciais para entender o porquê disso ocorrer. 


Camorim, em variações percentuais, foi o bairro com o maior ganho de moradores, com o aumento de 137%, segundo a pesquisa do IPP. Localizado no distrito da Barra da Tijuca, o bairro recebeu 2.699 habitantes entre 2010 e 2022. Para Vitor, o Recreio e a Barra da Tijuca são lugares de fuga da classe média e das elites cariocas. O Relatório de Compra e Venda de 2024 revelou que a Barra da Tijuca foi o local mais procurado para a compra de imóveis, seguido do Recreio dos Bandeirantes em segundo lugar.  


Vitor explica que Jacarepaguá, bairro que mais ganhou moradores em números absolutos, também é um local de fuga das elites, por essa classe buscar condomínios fechados. Por outro lado, de acordo com ele, Jacarepaguá possui um lado popular que atende às necessidades dos ex-habitantes da Zona Norte. Jacarepaguá é o quarto bairro com maior dimensão territorial no Rio de Janeiro, facilitando o deslocamento populacional para essa região. 


Jorge Artur, presidente da Associação de Moradores e Comerciantes de Vila Isabel, acrescentou que a busca por condomínios foi um fator central para entender a saída de pessoas da Grande Tijuca. Ele disse que: “Os empreendimentos que existem aqui, em Vila Isabel, não são iguais aos que existem na Zona Oeste, porque os terrenos são mais limitados”. Pois, segundo o presidente da associação, a Zona Oeste teria uma vantagem na dimensão territorial. 


A Zona Norte sofreu um aumento nas taxas de criminalidade nos últimos anos. De acordo com levantamentos do Instituto de Segurança Pública (ISP), os furtos aumentaram quase em 100% nos bairros da Grande Tijuca em 2022. Os roubos, no estudo do mesmo ano, tiveram um acréscimo em quase 50%. Porém, para Jorge, “a criminalidade está em toda parte”. Por isso, o aumento do crime não seria o único motivo para explicar o esvaziamento da Zona Norte, segundo ele. 


Jorge Artur afirma que a associação de moradores é responsável por 19 projetos sociais e atende cerca de 400 pessoas, mas ainda é necessária a implementação de políticas públicas na região para evitar o deslocamento dos habitantes para outras partes da cidade. Ele cita os roubos no entorno da Uerj e a formação de comunidades de moradores de rua no Maracanã como situações que precisam da atuação da Prefeitura e do Governo do Estado do Rio de Janeiro. “Tudo isso contribui para que tenha uma população tentando migrar para lugares que julgam ser seguros”, conclui Jorge. 


Jorge destacou o papel da associação de moradores no apoio às comunidades da Grande Tijuca. “Precisamos fazer nossa parte para ter um mundo melhor”, ele reforça. A Associação de Moradores e Comerciantes de Vila Isabel foi responsável pela retirada de 85 caminhões de lixo no prédio onde está a atual sede da associação, além de desenvolver outros projetos sociais na área da saúde e da educação. Jorge pontuou que: “Foi a união de várias pessoas que quiseram fazer o melhor”. 


36 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page