Evento oferece conhecimento sobre comunidade surda e atende demanda pelo ensino de Libras
Na última terça-feira, 19 de setembro, o Instituto de Letras da Uerj (ILE) promoveu a quarta edição da Oficina de Libras. O evento foi organizado pela equipe do projeto "Recursos e materiais para o ensino de português para alunos surdos" em parceria com o Diretório Acadêmico Lima Barreto (DALB). A oficina ocorre anualmente, porém este ano o evento teve duas edições. Através de sorteio de materiais e brindes, brincadeiras e o ensinamento da Língua Brasileira de Sinais em si. Hoje, no Dia Nacional da Luta da Pessoa com Deficiência, iniciativas como a oficina reforçam a importância da Libras no combate à exclusão social.
O projeto "Recursos e materiais para o ensino de português para alunos surdos" visa criar materiais de língua portuguesa com quatro volumes para alunos surdos, do 6º ao 9° ano. A produção dos livros teve início em 2012, com a coordenação da professora Angela Baalbaki, e desde então a equipe vem aperfeiçoando esses materiais. Atualmente, o projeto está no último volume e a equipe pretende finalizá-lo até dezembro para que eles possam ser distribuídos futuramente com a ajuda de verbas. Os livros além de ensinar o aluno surdo também capacitam os professores para saberem lidar com esses alunos.
Banner na entrada da Oficina de Libras (Reprodução: Ana Cândida)
A Oficina de Libras foi idealizada desde o início do período, no intuito de dar as boas vindas para os novos estudantes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e promover o ensino da Língua Brasileira de Sinais. O evento foi aberto para todos da comunidade uerjiana e qualquer pessoa que tivesse interesse em aprender. A oficina de certa forma funciona como uma porta de entrada para que os participantes conheçam o básico acerca da comunidade surda e, a partir disso, se sintam livres para conhecer mais sobre o projeto e a Libras.
A bolsista PROATEC e integrante do projeto Joice Bianca pontuou que o objetivo do projeto é fazer com que a pessoa surda seja mais respeitada e sociável. “Acreditamos que quanto mais pessoas conheçam a cultura surda, tenham entendimento de quem é a pessoa surda e de como funciona a língua que ela fala, cada vez mais visibilidade isso dará para a comunidade surda”, afirmou a também intérprete de Libras. Joice concluiu dizendo que muitas vezes o surdo é visto desde criança como alguém isolado da sociedade, porque muitas pessoas não têm o conhecimento básico de Libras.
A oficina começou com a entrega de brindes e materiais informativos acerca da Libras para o público. De início, foram debatidos alguns mitos e verdades sobre a comunidade surda e a Língua Brasileira de Sinais. Uma informação que chamou a atenção foi a diferenciação entre surdos e pessoas com deficiência auditiva. A pessoa surda é caracterizada como aquele que faz uso de Libras no seu cotidiano como meio de comunicação, e está inserido dentro de uma comunidade. Por outro lado, a pessoa com deficiência auditiva se comunica por outros meios.
Durante duas horas o evento introduziu a Libras, língua visual-espacial, com cinco parâmetros: configuração das mãos, pontos de articulação, orientação, movimentos e expressões faciais/corporais. Esses parâmetros desempenham um papel importante para que os sinais sejam compreendidos corretamente, evitando interpretações erradas. Um exemplo destacado foram as letras A e S, que podem ser confundidas, caso mude a posição do dedo polegar durante a sinalização. Além disso, o evento incluiu o ensino de diversos sinais de palavras e frases usadas no cotidiano, como saudações, alfabeto, perguntas básicas e números.
Bolsista do projeto ensinando Libras (Reprodução: Ana Cândida)
Assim como outras línguas, a Libras varia de acordo com o país e até mesmo com a região. Foi destacado que uma característica da Libras que a diferencia do português é o uso mínimo de soletração, pois a língua de sinais geralmente expressa palavras e frases grandes com um único sinal para uma comunicação mais rápida e fluida. A oficina incentivou as interações diretas com os participantes, promovendo a prática e a compreensão da Libras. O evento terminou com uma atividade de "telefone sem fio" usando sinais, ressaltando a importância de utilizar a Libras de maneira precisa para transmitir a mensagem correta.
Ana Beatriz, uma das bolsistas do projeto, contou que está na equipe faz seis meses e conheceu o projeto em uma disciplina ministrada pela coordenadora Angela Baalbaki. “Ainda não sei falar Libras totalmente, mas agora já sei algumas palavras. O que já é um avanço para quem no início não sabia nada. Além disso, está sendo muito interessante aprender sobre a comunidade surda”, afirmou a bolsista. Ana acredita que o trabalho do projeto com a oficina ajuda a desconstruir pensamentos ultrapassados acerca da língua de sinais e da pessoa surda.
O Diretório Acadêmico Lima Barreto (DALB), representação do grupo estudantil dos cursos de Letras, entende a parceria com o evento como uma alternativa contrária à falta de vagas nas disciplinas de Libras. Outra problemática recorrente dessa escassez é a falta de prioridade para os estudantes de Letras que desejam entrar nesses cursos de língua de sinais. Essas prioridades, muitas das vezes, são dadas para estudantes de outros cursos como Geografia e História. O DALB entende a oficina como uma maneira de despertar interesse, mas também suprir a demanda já existente no Instituto de Letras pela Libras.
A oficina e o projeto de "Recursos e materiais para o ensino de português para alunos surdos" são iniciativas que promovem a inclusão social de pessoas surdas. Atualmente, no Brasil a Libras é usada por apenas 2,3 milhões de brasileiros. Em contrapartida, o Brasil possui cerca de dez milhões de pessoas surdas/deficientes auditivos. Dados como esses provam que o estabelecimento da Libras na educação infantil, jovem e adulta é mais do que necessário para uma sociedade inclusiva. Caso tenha interesse sobre Libras entre em contato com o projeto:
E-mail: oficinaile@gmail.com
Facebook: @rmdlpsuerj
Instagram: @lp2surdos
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