OMS pede que mais pesquisas sejam feitas para determinar o impacto na saúde
Foto: Microplástico- Reprodução Internet
A presença de microplástico no organismo humano não é novidade, mas o que chama atenção, principalmente de pesquisadores, são os órgãos em que foram encontrados e a quantidade acumulada. Um estudo de 2018 da Universidade de Viena, na Áustria, já apontava que pelo menos metade da população mundial poderia estar contaminada com essas partículas. Em agosto deste ano, médicos chineses encontraram pela primeira vez microplástico no coração humano, e isso aumenta o alerta para os possíveis danos que esses materiais podem causar à saúde humana.
A formação do microplástico ocorre pelo desgaste natural do plástico e está associada ao consumo indiscriminado do material, principalmente daqueles de uso único. Além disso, outros fatores que atuam na poluição provocada pelo material são o descarte irregular de resíduos sólidos e o baixo índice de reciclagem do plástico descartado, que no Brasil é pouco maior do que 20%. Atentos aos possíveis danos, alguns parlamentares tentam aprovar leis para mudar esse quadro e obrigar fabricantes a alertar os consumidores quanto aos riscos associados ao uso do material.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) pede para que mais pesquisas sejam feitas para poder determinar como a saúde humana é atingida pelos microplásticos e alerta para a necessidade de diminuir a poluição por plástico. A Organização das Nações Unidas (ONU) considera que o plástico seja a segunda maior ameaça ambiental ao planeta, e o Programa Ambiental das Nações Unidas (Pnuma) calcula que todos os anos sejam produzidos cerca de 460 milhões de toneladas do material e as projeções indicam que o número pode triplicar até 2060.
Substância afeta produção de hormônios
Imagem: Selo Livre de BPA/ Bisfenaol A - Reprodução: Internet
“A Sociedade Brasileira de Endocrinologia diz que, de acordo com alguns estudos, quando o Bisfenol A (BPA) entra em contato com o organismo humano, principalmente durante a vida intrauterina, a substância pode afetar o sistema endócrino causando alteração na produção dos hormônios”, enfatiza Igor David da Costa, Professor do Departamento de Ciências Exatas, Biológicas e da Terra da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Um dos maiores problemas relacionados aos plásticos está em sua composição, alguns levam BPA, usado para dar transparência e durabilidade, outros possuem ftalato, utilizado para dar maleabilidade às peças. Especialistas afirmam que os dois compostos orgânicos funcionam comprovadamente como desreguladores endócrinos, ou seja, interferem na produção de vários tipos de hormônios.
Mônica Marques Calderari, Professora Titular do Departamento de Química Orgânica da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) conta que os desreguladores endócrinos podem atingir o pâncreas, ovários, testículos, tireoide e outros. Com isso, existe a possibilidade do desenvolvimento de diversas doenças como, obesidade, diabetes, hipotireoidismo entre outras. Calderari destaca ainda que crianças e fetos são mais suscetíveis por terem as vias metabólicas ainda imaturas. "Não está comprovado, mas atualmente o grande número de casos de autismo tem sido relacionado a intoxicação por microplástico. Não sabemos se ocorre na vida intrauterina ou após o nascimento. O grupo de pesquisas do qual faço parte está monitorando placenta e cordão umbilical humano para avaliarmos possíveis efeitos na saúde de crianças de até dois anos de idade", revela.
Compostos podem causar alterações no comportamento
Recentemente pesquisadores austríacos fizeram um experimento com camundongos, forneceram água contendo microplástico e após duas horas o material já havia se alojado no cérebro das cobaias. A descoberta pode ser bastante preocupante uma vez que alguns compostos dos plásticos podem causar lesões e até inflamações celulares. Pesquisadores citam a probabilidade de aumento de doenças neurológicas e neurodegenerativas.
Um outro estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Rhode Island, nos Estados Unidos, e publicado na revista científica International Journal of Molecular Science indica que a presença de microplástico no cérebro pode levar a alterações comportamentais muito parecidas com a demência humana. Nesse estudo, camundongos ingeriram água com microplástico por mais de duas semanas e após esse período, até mesmo cobaias mais jovens passaram a apresentar um comportamento parecido com a demência humana.
Enquanto pesquisas não apresentam resultados definitivos, algumas medidas isoladas tentam impedir possíveis danos. A União Europeia decidiu proibir a venda de produtos que contenham microplásticos, como glitter e alguns cosméticos. Aqui no Brasil, o Projeto de Lei (PL) 3069/23 tramita na Câmara dos Deputados e quer tornar obrigatório que produtos destinados a grávidas e lactantes que contenham BPA tenham essa indicação na embalagem. O PL 2524/23, conhecido como “Lei do Oceano Sem Plástico”, teve sua primeira vitória em 18 de outubro no Senado. O projeto quer reduzir a produção de plástico descartável e impulsionar a economia circular do material. É possível apoiar o projeto de lei através da petição online (clique aqui para assinar).
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