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  • Foto do escritorLeonardo Siqueira

Novo Ensino Médio: prática x realidade

Atualizado: 12 de set. de 2023

Mesa redonda reúne professores para discutir a implantação da reforma no Rio de Janeiro


Evento de projeto do CAp-Uerj discute a reforma do Novo Ensino Médio

Foto: Reprodução/ Uerj


Liberdade de escolha das disciplinas, maior autonomia dos estudantes e ensino em tempo integral. Essas são as principais ideias propostas pela reforma do Novo Ensino Médio, que teve sua implantação suspensa pelo Governo Federal no último mês de abril em meio a críticas de diversos especialistas e entidades estudantis.


Diante disso, o projeto de extensão “História e Filosofia das Ciências Educacionais” (HFMUERJ), alocado no Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira - CAp-Uerj, promoveu uma mesa redonda com a presença dos professores Walace Ferreira e Rodrigo Carvalho, que elucidaram os principais pontos e problemáticas da reforma.


Professor adjunto de Sociologia do CAp-Uerj, Walace Ferreira é coordenador de um Prodocência da Universidade com pesquisa sobre a reforma do Ensino Médio, que busca entrevistar diferentes coordenadores pedagógicos, tanto da rede privada quanto da estadual, com o objetivo de conhecer como está sendo realizado o processo de implementação da reforma no Rio de Janeiro. Para contextualizar o debate, Walace chama atenção para os problemas enfrentados pelo serviço público e a desigualdade social no país: “53% dos nossos municípios, o que equivale a quase 3 mil, só têm uma escola que oferece ensino médio regular ou educação profissionalizante”. Sendo assim, segundo o professor, este cenário já inviabiliza o discurso adotado pela reforma de dar autonomia para o estudante escolher o que fazer, visto que a maior parte das escolas e municípios não têm condições de oferecer essa oportunidade.


O Novo Ensino Médio é dividido em duas estruturas: a primeira parte é direcionada pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e composta pelas disciplinas obrigatórias como Português, Matemática, Filosofia, Química, entre outras, que compõem uma carga horária de 1800h ao longo dos três anos. Já a segunda parte é composta pelos itinerários formativos, que seriam as disciplinas ofertadas para a escolha dos estudantes de acordo com sua área de interesse, e que corresponde a uma carga horária de 1200h durante os três anos, dividida em cinco eixos: Linguagem, Matemática, Ciências Naturais, Ciências Humanas e Formação Técnico-Profissional. Dessa forma, os alunos passariam a estudar de forma integral, com a carga horária total passando de 2400h para 3000h.


Professor Walace Ferreira esclarece os principais pontos e problemas do Novo Ensino Médio

Foto: Reprodução/ YouTube HFM UERJ


De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB), o Ensino Médio é orientado por “uma formação comum com vistas ao exercício da cidadania e ao fornecimento dos meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores". No entanto, Walace afirma que o Novo Ensino Médio peca em todos esses pontos. Dentre muitos fatores, uma das críticas feitas pelo professor é referente à desdisciplinarização do ensino, ou seja, criam-se várias áreas do conhecimento, que passam a ser chamadas de componente curricular, retirando a lógica do conteúdo. O professor ainda questiona a inclusão e supervalorização de novos componentes curriculares como “Projeto de Vida”, que na Secretaria Estadual de Educação do Estado do Rio de Janeiro (Seeduc/RJ), por exemplo, ocupa mais tempos de aula ao longo do Ensino Médio do que disciplinas como Filosofia e Sociologia: “São seis tempos de Projeto de Vida no Ensino Médio. É muito complicado. Ninguém se forma em Projeto de Vida. As escolas botam pra dar aula o professor que tá sobrando, que não conseguiu ter carga horária”, comentou Walace.


A carga horária dos itinerários formativos, por sua vez, cresce ao decorrer do Ensino Médio: “Lá no terceiro ano, quando o estudante deveria se preparar para o vestibular ou para o Enem, é quando ele vai ter mais itinerário formativo. Então, na prática, tivemos uma redução das disciplinas”, relata Walace. O professor ainda diz que o jovem se vê numa condição muito prematura de fazer uma escolha que pode determinar seu futuro, além do fato de que muitas escolas não conseguem ter condições para ofertar todos os componentes curriculares para os alunos escolherem. Ele afirma que os próprios professores, em sua maioria, desaprovam a reforma, se sentindo inferiorizados por muitas vezes ter que sair de sua área de formação para dar aulas de Projeto de Vida, por exemplo. Por fim, Walace ressalta que o Novo Ensino Médio pode ser um agravante para a desigualdade no país, fazendo com que o jovem estudante da rede pública perca conteúdo e tenha mais dificuldades de ingressar em uma universidade, o que pode acarretar em um fortalecimento do setor privado de cursos pré-vestibulares, gerando um desequilíbrio cada vez maior em uma disputa de vestibular.


Já Rodrigo Carvalho, segundo componente da mesa redonda, conta um pouco da experiência da implantação do Novo Ensino Médio em sua unidade escolar em Nilópolis. professor da Seeduc/RJ e da Prefeitura Municipal de Itaguaí, ele relata que a escola não teve o conhecimento de quais novas matérias seriam oferecidas de maneira prévia, ou seja, depois que essas disciplinas foram então liberadas no sistema, foi preciso ver quais professores estavam com carga horária disponível para conseguir encaixá-las: “Então essa teoria de que o aluno escolhe o que é melhor pra ele, ela já cai por terra. O aluno vai ter que escolher aquele professor que tá com carga horária disponível, não é aquilo que ele realmente teria interesse”, explicou.


O professor ainda esclarece que a realidade da escola integral não passa por manter o aluno em aula desde 7h da manhã até o final da tarde todos os dias, visto que os horários mudam, além do fato de que a grande maioria dos seus estudantes, por exemplo, não escolheu sua unidade escolar por opção própria, mas sim por preferência dos pais. Sendo assim, Rodrigo ressalta a divergência da prática do Novo Ensino Médio ante o discurso de promoção da reforma de manter os alunos por mais tempo nas escolas.


Autonomia do CAp-Uerj



CAp-Uerj se vale de autonomia universitária e não adota reforma

Foto: Reprodução/ Uerj


A implantação do Novo Ensino Médio começou a ser realizada no Rio de Janeiro em 2022. No entanto, vale ressaltar que o Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira - CAp-Uerj não adota a reforma, visto que, por se tratar de um instituto de formação docente, possui autonomia com relação ao seu ementário. Segundo o professor Thiago Almeida, diretor do CAp-Uerj, a escola pretende discutir uma atualização do currículo para este ou o próximo ano.



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