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  • Julia Santos e Leonardo Medeiros

O legado de Lima Barreto é um tesouro nacional

Atualizado: 27 de mai. de 2023

Pré-modernista, o escritor deixou sua marca na literatura brasileira com obras que fazem críticas sociais



Ilustração feita com foto original de Lima Barreto

Reprodução: disparada.com.br


Responsável por obras clássicas da literatura brasileira, o pré-modernista Lima Barreto deixou sua marca na arte com suas obras críticas. Em uma tentativa de apagamento de sua negritude, Barreto foi embranquecido ao longo dos anos em representações. O legado do autor foi celebrado na edição deste ano da Festa Literária das Periferias (Flup). O evento foi realizado no Centro do Rio no último dia 13, data em que o escritor faria 142 anos.


Durante o evento, o livro “Quilombo do Lima” foi lançado. A obra reúne 22 contos de autores e autoras negras inspirados no acervo de Barreto. No mesmo dia da celebração, também foi comemorado o Dia do Preto Velho, em reverência à ancestralidade e sabedoria africanas. O cantor, compositor e ex-ministro da cultura Gilberto Gil marcou presença na festa ao lado de Haroldo Costa, sambista e ator brasileiro.


A professora Carmen Lúcia, do Centro de Educação e Humanidades (CEH), afirma que o valor das obras de Lima Barreto deve-se ao “engajamento social e político”, além da relação entre o “desabafo e revolta sociais”. Ela também enfatiza de que maneira o trabalho do artista foi diminuído. “Qualquer esforço de compreensão dos processos de escrita e criação é menosprezado. E o resultado está em expressões que pretendem definir a produção literária do escritor carioca como “desleixo”, “revolta pessoal e ressentimento”, “mau acabamento”, disse a professora.


Com um extenso acervo, as obras de Lima Barreto são consideradas importantes mesmo após décadas de terem sido escritas. Por esse motivo, foi lançado no último dia 15, pela Biblioteca Nacional, a publicação Lima Barreto: no Curso da Vida e das Leituras, que reúne correspondências, textos literários, documentos pessoais e caderno de imagens do escritor. A ação da Biblioteca Nacional é uma espécie de inventário do acervo pessoal do autor de obras como Triste Fim de Policarpo Quaresma.


Segundo Carmem, o livro chama atenção para como o nacionalismo se constitui e se apresenta, tanto na Primeira República quanto no contemporâneo. Para a professora, o escritor usa a narrativa e estratégias discursivas para estabelecer essa relação. “Por meio da ficção e das ações do personagem, Lima Barreto desvenda uma nação dividida e a heterogeneidade cultural aparece envolta em véu de ilusão e violência".


A professora relembra que a inspiração de Lima Barreto para explicar o nacionalismo veio a partir do presidente Floriano Peixoto, que governou o Brasil de 1891 a 1894. O governo de Floriano foi pautado pela ordem e pela defesa da estabilidade da República, mas utilizando de métodos ilegais e violentos para isso. Na época, ele ganhou apoio de militares e de civis pela sua base progressista, por defender melhorias na infraestrutura do país, pelo aperfeiçoamento da instrução pública e pelo incentivo à industrialização. Mas apesar de todo progresso e apoio popular, o seu período na presidência foi marcado por um forte autoritarismo, com prisões, deportações e repressão violenta contra seus opositores.


Para Carmen, o discurso literário, especialmente o das primeiras décadas do século XX, foi responsável por problematizar essa construção cultural do nacionalismo. E que esse processo é importante para incentivar a leitura crítica acerca dos jogos de poder, das contradições internas do país, das vozes silenciadas e dos apagamentos que são produzidos no meio do processo de invenção da nação.


Para completar, a professora pontua que muitas foram as contribuições de Lima Barreto para a Literatura Brasileira, seja pelos temas abordados, pela representatividade do autor ou pelo seu estilo de escrita. E destaca outras obras que dialogam com Lima Barreto, como O avesso da pele, de Jefferson Tenório, que aborda a temática das consequências psíquicas do racismo, e o conto A arte de andar pelas ruas do Rio de Janeiro, de Rubem Fonseca, que relembra a arte do andarilho cuja caminhada inspira e é a própria escrita.


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