OMS estima que até 2050, 2,5 bilhões de pessoas poderão sofrer algum tipo de perda auditiva; poluição sonora é uma das razões do problema
O excesso de barulho no trânsito é um grande problema urbano. (Foto: Amanda Tinoco/Arquivo A VOZ DA SERRA)
Sons de carros, motores, ônibus, motos, buzinas - ou até mesmo música alta em estabelecimentos e também obras nas ruas, tornou-se uma questão de saúde pública. A poluição sonora, ainda que invisível a olho nu, é uma das preocupações ambientais mais perigosas, perdendo apenas para a poluição da água e do ar, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). E os efeitos são diretos. Segundo a Organização, 2,5 bilhões de pessoas poderão sofrer algum tipo de perda auditiva até 2050.
Para se ter ideia de como é esse impacto, a buzina de um carro produz em volume de decibéis - a unidade que mede a intensidade sonora - de 90 dB, e a de um ônibus chega a 100 dB. A OMS recomenda que os sons não passem de 50 dB — o que equivale a uma conversa em tom normal. A faixa de 55 a 65 dB começa a causar dificuldade no ouvinte para se concentrar numa tarefa ou dormir um sono reparador. Acima disso, o barulho começa a causar pequenos estragos imperceptíveis. O tráfego aéreo também é uma das causas de poluição sonora, seu impacto é alto: só um desses aparelhos produz cerca de 130 dB (decibéis).
Tão importante quanto a intensidade é o tempo de exposição ao barulho. Em um nível de ruído de por exemplo 87 dB o limite de exposição diária aconselhável seria de 7 horas, enquanto 115 dB só seriam tolerados 7 minutos de exposição. O fonoaudiólogo Danilo Santana explica como funciona a questão da quantidade de exposição segura a ruídos. “O ser humano pode ficar exposto em até 85 decibéis pelo período máximo de 8 horas. Seguindo a regulamentação da NR15, que regulamenta a saúde ocupacional e dos trabalhadores. Então, 85 decibéis em 8 horas. A cada 5 decibéis que sobe esse volume, a exposição vai caindo pela metade. Então, 90 decibéis já cai para 4 horas e assim por diante”.
Danilo Santana ressalta cuidados durante o trânsito. “No caso do trânsito, é interessante fechar as janelas. É muito comum motoristas profissionais terem perda auditiva do lado esquerdo por conta do ruído gerado do lado da janela, então fechar a janela é um fator importante para atenuar o ruído”.
Ao atingir 140 dB, o ruído é ensurdecedor. Foto: megaclima/tabela de decibéis.
Para adultos, o controle de ruídos seria uma das formas de se proteger e manter uma boa audição. Ana Beatriz Dias, de 22 anos, moradora de Santa Cruz (RJ), se desloca todos os dias para o Maracanã para suas aulas na Uerj. A jovem, que precisa utilizar transportes públicos, reclama da poluição sonora nesses meios de transporte, que causam estresse e dores de cabeça para ela. “Eu sinto muita dor de cabeça com barulho alto, me irrita extremamente. Quando entro no trem e ele vai seguindo viagem, é ruim. Porque fica aquele barulho altíssimo, vários vendedores ambulantes em um só vagão disputando quem fala mais alto”.
O Rio de Janeiro é a segunda maior cidade do Brasil, perdendo apenas para São Paulo. Com 6,2 milhões de habitantes, é difícil fugir da poluição sonora. Ana Beatriz brinca que, se pudesse, iria morar em uma cidade distante, do interior, para ficar livre dos grandes níveis de barulho presentes na vida urbana. “Os barulhos no transporte público me incomodam demais. Sobre o trânsito de rua, eu também fico incomodada, porque é um monte de carro buzinando pra lá e pra cá”.
Um perigo invisível, mas danoso
Altos níveis de ruído são um perigo invisível, mas de grande risco para audição humana. Foto: SST Online
O otorrinolaringologista Marcelo Galhardo, de São Paulo, alerta para os riscos da exposição constante a barulhos altos. Além de também falar para a população a importância de se ter momentos de silêncio - ainda que difíceis na vida urbana. “Viver em lugares com muito barulho, como cidades movimentadas, pode prejudicar seus ouvidos com o tempo. Além disso, o barulho constante pode fazer você se sentir cansado e estressado. Você precisa de momentos de silêncio para descansar seus ouvidos. É como dar um descanso para os músculos depois de um exercício”.
O doutor Marcelo Galhardo ainda pontua que ouvir música alta nos fones de ouvido como uma espécie de “fuga” dos barulhos da cidade não funciona. “Se você aumenta o som da música nos fones de ouvido para abafar o barulho ao seu redor, isso pode ser ruim para seus ouvidos. É como tentar abafar um barulho com outro barulho alto, o que pode machucar sua audição”.
É preciso manter precauções quanto a exposição a ruídos. O advogado previdenciário Ronie dos Santos Silva, de 51 anos, morador da Baixada Fluminense, conta que possui grande preocupação com a poluição sonora, pelos anos trabalhando em uma indústria. Ele também recorda de uma experiência que sofreu de dor de cabeça após se expor a um ambiente ruidoso. “Fui em um local onde o ruído, o som, o volume da música estava excessivo e ao sair daquele ambiente, de um ambiente festivo, eu saí de lá com muita dor de cabeça, tive que tomar analgésico porque fiquei por algumas horas exposto a uma música em um volume absurdamente alto que teve como consequência depois fortes dores de cabeça”.
O que Ronie faz para se proteger é evitar estar no mesmo local em que notou os altos ruídos. “Quando eu percebo um ambiente ruidoso, eu prefiro evitar ficar exposto pelo conhecimento adquirido e parte como especialista em direito previdenciário por saber que o ruído traz problemas auriculares”.
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