Países em desenvolvimento não costumam ser contemplados na categoria principal.
Por Letícia Ribeiro e Livia Bronzato
O Prêmio Laureus do Esporte Mundial teve sua 25a edição sediada em Madri (Espanha), no último dia 22 de abril. É uma premiação realizada pela Academia de Esportes Mundiais Laureus, composta por um grupo único de lendas do esporte. Ela premia os atletas com maior destaque da temporada durante o ano anterior, servindo como um incentivo aos esportistas. Apesar de ser um marco no mundo esportivo, a premiação acaba refletindo a desigualdade entre os atletas do mundo inteiro.
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Mesmo com as três indicações – Rayssa Leal, Filipe Toledo e Bola pra frente – o Brasil não levou nenhum prêmio para casa. Apesar de não terem levado a melhor em 2024, os brasileiros já conquistaram alguns prêmios nos anos anteriores.
Logo na primeira edição, no ano 2000, Pelé levou um prêmio em reconhecimento de sua carreira brilhante no esporte.
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Pelé recebe o prêmio Laureus
Já em 2002, foi a vez do skatista brasileiro Bob Burnquist, ganhando na categoria de Melhor Atleta de Esportes de Ação. No ano seguinte, a seleção masculina de futebol ganhou como Melhor Equipe do Ano. No mesmo ano, Ronaldo, conhecido como Ronaldo Fenômeno, como Melhor Retorno Esportivo. Seis anos mais tarde, em 2009, o nadador Daniel Dias, conquistou o prêmio de Melhor Atleta Paralímpico, ganhando mais duas vezes na mesma categoria, uma em 2013, e outra em 2016. Em 2012, o empresário e ex-jogador Raí ganhou na categoria Esporte pelo Bem, por ser fundador da Fundação Gol de Letra, projeto que oferece acesso à educação para crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social. O último prêmio brasileiro foi em 2018, com o time da Chapecoense no Melhor Momento Esportivo, pelo seu bom desempenho nas competições após a tragédia ocorrida em 2016, acidente de avião que vitimizou 71 jogadores do clube.
BRASILEIROS INDICADOS EM 2024
Se o Brasil, a exemplo de outros países em desenvolvimento, continua sem ser contemplado pelo prêmio principal, teve três indicações para outras categorias: Rayssa Leal e Filipe como Esportista de Ação do Ano e, também, a indicação do projeto Bola pra Frente em Esporte pelo Bem.
Rayssa Leal, aos 15 anos, somou a sua medalha de prata olímpica, a sua primeira medalha de ouro nos campeonatos mundiais de Street Skateboarding, no Sharjah, nos Emirados Árabes Unidos. A skatista permaneceu na liderança depois da terceira rodada de manobras, com 255,58 pontos. Leal também levou seu segundo ouro em Chiba, no Japão, no campeonato X Games.
Outro indicado é Filipe Toledo, surfista bicampeão mundial consecutivo, de 29 anos, é o quarto brasileiro a ganhar um título mundial na maior categoria de surfe do mundo. Para conquistar o título da World Surf League, em Trestles, na Califórnia, Filipinho venceu com nota 8.97 ao final da somatória da última bateria, passando a frente de Ethan Ewing, surfista australiano.
E, na categoria Esporte pelo Bem, o Brasil também foi indicado com o projeto Bola pra Frente, fundada pelo tetracampeão mundial de futebol Jorginho, é uma organização da sociedade civil que atua em comunidades em situação de vulnerabilidade social, usando o esporte e a cultura para promover habilidades motoras, de aprendizagem, trabalho em equipe, conhecimentos gerais e vida saudável da população.
POR QUE OS PAÍSES MENOS DESENVOLVIDOS TÊM MENOS INDICAÇÕES?
É notório a discrepância de indicações entre os países desenvolvidos e os subdesenvolvidos. A diferença de indicações nos últimos 5 anos:
ANO | SUBDESENVOLVIDOS | DESENVOLVIDOS |
2024 | 13 | 35 |
2023 | 11 | 37 |
2022 | 6 | 40 |
2021 | 4 | 29 |
2020 | 11 | 36 |
Isso reflete o cenário desigual dentro do esporte, em que os atletas de países subdesenvolvidos não recebem os investimentos necessários e o apoio governamental como os atletas de países desenvolvidos. Na maioria dos casos, o retorno financeiro do esporte não é satisfatório ao ponto de o atleta conseguir se sustentar apenas com o que ganha profissionalmente, precisando dividir o tempo hábil com um trabalho secundário para complementar sua renda.
Essa situação, no Brasil, que já era comum, foi agravada com a extinção do Ministério do Esporte em 2019 durante o governo Bolsonaro. O projeto Transparência no Esporte da Universidade de Brasília divulgou dados que mostram a redução de 47%, de 2016 para 2020, do investimento para a formação e treinamento de atletas brasileiros para os Jogos Olímpicos de Tóquio. Em 2020, o valor foi de R$ 2 bi enquanto, no ciclo olímpico anterior, foi de R$ 3,2 bi.
A falta de investimento reflete diretamente na performance do atleta, porque, além do bom desempenho no esporte, é preciso arcar com os custos das viagens, dos treinos, dos equipamentos e das demais necessidades, como suas despesas pessoais e familiares.
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