Construção do anel viário de Campo Grande põe em risco área preservada.
A construção de um túnel em Campo Grande, como parte de um projeto de mobilidade urbana da prefeitura do Rio, tem gerado transtornos para os moradores do bairro que são contrários ao projeto em razão dos impactos ambientais previstos. A obra prevê a derrubada de parte da Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE) da Floresta da Posse. Para piorar, o Ministério Público do Estado do Rio (MP) constatou que a prefeitura utiliza um estudo de mobilidade realizado há quase 20 anos. Os promotores identificaram ainda a ausência de estudos de impacto ambiental. Caso seja aprovado, o projeto, que tem o apoio do Governo Federal, está previsto para ser concluído em 2025.
O anel viário de Campo Grande inclui um túnel sob o Morro Luiz Bom, que terá 600 metros de extensão. Para a conclusão desse trecho, a Secretaria de Infraestrutura calcula que seja necessário desmatar cerca de 10% da Floresta da Posse. Em 10 de agosto, durante a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao estado do Rio, foi anunciado o aporte financeiro para o projeto, que tem um orçamento estimado em R$ 800 milhões.
O antigo dilema entre progresso e preservação está presente no programa de mobilidade urbana de Campo Grande. Ambientalistas e moradores são contrários à construção do túnel. O coletivo Nosso Bosque, fundado em 2016, é formado por ecologistas e moradores vizinhos à Floresta da Posse que lutam pela preservação da área. Segundo o coletivo, a empresa responsável por fazer o levantamento sobre o ecossistema local dedicou apenas 30 horas de registros em cinco dias de amostragem, registrando apenas 15 espécies.
Algumas ações tramitam em segredo de justiça na tentativa de impedir a obra do túnel. Em junho deste ano, o MPRJ apontou que faltavam: Estudo de Impacto Ambiental (EIA), Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV), e também um plano de manejo da ARIE, além da necessidade de um novo estudo de demanda de tráfego, uma vez que o planejamento da obra foi realizado a partir de um estudo realizado em 2004. O bairro na época já era o mais populoso do país e segundo o último censo realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mantém a posição.
Thiago Neves, fundador do coletivo Nosso Bosque, conta que por iniciativa do próprio coletivo foram montadas armadilhas fotográficas que ajudaram a identificar as diversas espécies que habitam ou passam pela floresta, já que o local faz a ligação entre os maciços do Mendanha e da Pedra Branca. São quase 100 espécies de aves, entre elas: Tucanos, Maritacas, Maracanã-verdadeira. Vários mamíferos como gambá, coelho-tapiti (em perigo) e cachorro-do-mato. Já foram registradas variedades raras de borboletas e até mesmo uma cobra-cipó. Ele enfatiza ainda que o local seria uma alternativa verde para a comunidade e que isso traria vários benefícios para a vizinhança.
“Túneis mesmo em áreas verdes são permitidos, desde que algumas regras sejam seguidas, o que a prefeitura não tem feito”, afirma
Ligia Xavier, moradora do condomínio que será afetado, conta que está preocupada com os danos que a floresta pode sofrer. Ela relata ainda que o local é preservado graças a ação dos moradores e que teme a desvalorização dos imóveis devido a obra. “ Aqui sempre foi muito tranquilo. Minha neta brincava sossegada na praça. Nós fizemos várias manifestações, mas a prefeitura não nos ouviu”, desabafa Ligia.
No último sábado, 2 de setembro, o Coletivo Nosso Bosque organizou um protesto juntamente com os moradores do condomínio mais atingido pelas obras de construção do túnel. Em frente ao West Shopping, os manifestantes levaram faixas e cartazes exigindo a paralisação da obra e mais transparência por parte da prefeitura.
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