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Leonardo Medeiros e Leonardo Siqueira

Projeto Sarar: cuidado para além do berço

Segmento ambulatorial do Hupe realiza atendimento a recém-nascidos de alto risco


Projeto Sarar realiza atendimentos multiprofissional no ambulatório de pediatria do Hupe. Foto: Arquivo Pessoal

O nascimento de um filho é um momento idealizado por muitas famílias. No entanto, muitas vezes nem tudo sai como o planejado. Segundo dados do Painel de Monitoramento de Nascidos Vivos, do DataSUS, por exemplo, o Brasil registrou cerca de 292 mil nascimentos prematuros em 2022. Diante deste cenário, o projeto Sarar, do Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe) da Uerj, realiza atendimentos a recém-nascidos de alto risco e que precisam de cuidados especiais, que são, em sua maior parte, bebês prematuros.


O Sarar é o Segmento Ambulatorial do Recém-Nascido de Alto Risco e atende recém-nascidos que deixam a unidade de terapia intensiva neonatal do Hospital Universitário. Segundo Maura Calixto, coordenadora do projeto e professora associada da Faculdade de Ciências Médicas da Uerj, a maioria dos atendimentos do Sarar são de bebês prematuros e os que sofreram de asfixia perinatal, uma deficiência de oxigênio no momento próximo ao parto.


Calixto afirma que os prematuros atendidos no projeto costumam apresentar peso inferior a 1500 gramas ao nascer e um tempo de gestação inferior a 32 semanas - uma gestação completa varia de 37 a 42 semanas. Para ela, esses bebês, assim como os que sofrem de asfixia perinatal, precisam de um acompanhamento especial: “São bebês que têm uma chance maior do que os que não têm essa intercorrência de evoluir com alterações do seu desenvolvimento. Eles têm maior chance de ter alterações, não só no desenvolvimento, mas também no crescimento”, explica a médica.


Ela ressalta que algumas questões clínicas são próprias dos bebês prematuros, como a doença pulmonar crônica da prematuridade, a Displasia broncopulmonar, que faz com que o bebê precise ser internado por muito mais vezes do que um que passou pelo tempo completo de gestação e que não tem essa doença crônica. A coordenadora cita ainda que os prematuros podem apresentar alterações sensoriais, como de visão e audição, além de representarem grande parte das crianças que têm paralisia cerebral.


Além dos prematuros, o projeto acolhe recém-nascidos que sofreram asfixia perinatal. De acordo com a coordenadora, a asfixia perinatal é uma deficiência de oxigênio por diversas razões e que pode ocorrer no momento, antes e depois do nascimento: “Isso pode trazer sequelas como atrasos no desenvolvimento neuromotor, paralisia cerebral, cegueira, surdez, deficiência intelectual ou dificuldade de aprendizado posterior”, declara. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a asfixia perinatal é a terceira maior causa de morte neonatal no mundo. No Brasil, a estimativa é de que cerca de 20 mil crianças nascem com falta de oxigenação no cérebro no período de um ano, conforme números do Ministério da Saúde.


Projeto atende os recém-nascidos de alto risco e pode segui-los até os 12 anos de idade. Foto: Arquivo pessoal

Diante disso, Calixto destaca a importância de uma equipe especializada para cuidar do tratamento desses bebês, que é o propósito do projeto Sarar: “São bebês que precisam ter uma equipe que possa detectar quando houver uma alteração de desvio e intervir oportunamente. E essa intervenção se faz através de orientações específicas para os pais e aos cuidadores primários, que podem também ter necessidades de terapias específicas: terapia com fonoaudiólogo, fisioterapeuta e outros”.


Como funciona


O projeto existe efetivamente desde 2014, com aproximadamente 300 crianças atendidas atualmente, um número que pode chegar a 500 pessoas contempladas, contando os familiares. O Sarar segue os bebês de alto risco até os 12 anos de idade. Segundo Calixto, no começo, as consultas são feitas em um curto intervalo de tempo, com acompanhamento mensal, e depois progridem para intervalos maiores. O tempo varia dependendo da necessidade de cuidado da criança e de cada família.


A equipe é formada por pediatras, neonatologistas, fonoaudiólogos, nutricionista, enfermeira, fisioterapeutas e psicóloga. As consultas são multiprofissionais e transdisciplinares, com a presença das mais variadas especialistas da equipe.


São oferecidos também para a família processos educacionais em saúde, para informá-los e dar-lhes autonomia suficiente para conseguir cuidar dessas crianças. O Sarar entende que esses bebês exigem muito cuidado e é necessário prestar apoio aos familiares nesse momento, pois ainda que o bebê tenha alta da unidade de terapia intensiva, não está tudo resolvido. Porque os problemas podem ocorrer após a prematuridade. Por isso é feito esse acompanhamento da criança com essa equipe multidisciplinar.


A família


A coordenadora destaca a importância do acompanhamento psicológico no trabalho do projeto, especialmente para as famílias. Segundo ela, a psicóloga da equipe, que participa da consulta multiprofissional, trabalha tanto na avaliação das crianças quanto na eventual necessidade de uma intervenção em relação à família: “Existe sempre o acolhimento da família e são verificadas as possibilidades de ser oferecido um atendimento aqui. Quando não, há de se buscar esse atendimento lá fora, mas nunca abrindo mão da família”, declara.


Ela ainda destaca que o nascimento de um bebê de alto risco acaba por causar uma ruptura na idealização dos pais, e, diante disso, o cuidado psicológico se torna ainda mais necessário para que a família também permaneça firme e segura durante o tratamento do bebê.


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