Aumento de 0,2ºC do oceanos pode estar relacionado a evento climático global
Por Eduardo Souza
Os oceanos vêm apresentando um aquecimento constante desde o dia 13 de março. As últimas medições registraram 21ºC, 0,2ºC mais quente do que nos períodos anteriores, marca superada em 24 de abril. Os dados são do Climate Reanalyzer da Universidade do Maine, nos EUA. Parte dos cientistas acredita que esse aumento de temperatura é resultado dos efeitos provocados pelo El Niño, fenômeno climático que ocorre no Oceano Pacífico.
Para os pesquisadores, o aumento das temperaturas dos oceanos traz graves consequências para o meio ambiente, como o aumento da frequência e intensidade de chuvas extremas, resultado do acréscimo de umidade na atmosfera. Há ainda impacto sobre a disponibilidade de peixes e a intensificação do aquecimento global, provocada pela redução da capacidade dos oceanos em reter dióxido de carbono (CO2), que acaba absorvido pela atmosfera, além de apresentar riscos para a vida marinha.
O El Niño consiste na desaceleração dos ventos alísios, que sopram do leste para o oeste ao longo da linha do Equador. Em condições normais, eles “empurram” a água quente do Oceano Pacífico para o oeste, fazendo com que as águas mais frias que estavam abaixo emerjam, diminuindo a temperatura do ambiente. Durante o El Niño, os ventos alísios não têm a mesma intensidade e as águas quentes ficam estacionadas, impedindo as águas frias de subirem à superfície.
Como afirma Antonio Carlos Oscar Júnior, professor adjunto do departamento de geografia física da Uerj e conselheiro da Associação Brasileira de Climatologia (ABClima), o evento exerce impactos em escala global: “Em virtude desse mecanismo, há um aquecimento da temperatura da superfície do mar em todo o pacífico equatorial. Esse fenômeno altera a circulação da atmosfera planetária, repercutindo em alterações na distribuição da precipitação e da temperatura do ar.”
O El Niño tem uma espécie de irmã, a La Niña, que age de forma inversa, contribuindo para a diminuição da temperatura dos oceanos. “A La Niña é a fase fria do fenômeno, ou seja, um resfriamento da temperatura da superfície do mar do Pacífico Ocidental. Assim sendo, a La Niña não impacta no aquecimento, mas no resfriamento do Pacífico Equatorial”, como explica Oscar Júnior.
Riscos para a vida marinha
O aquecimento dos oceanos também apresenta riscos para a vida marinha. Segundo Aline Saavedra, doutora em biologia vegetal pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), uma das espécies mais ameaçadas são os corais: “São animais extremamente sensíveis a essas mudanças climáticas. Eles não resistem a um aumento nem de 1ºC na temperatura da água e isso faz com que eles morram. Isso tem um efeito para toda a vida oceânica porque o recife de coral é muito importante como berçário marinho, para os peixes colocarem seus ovos. Além disso, os peixes costumam encontrar no recife de coral um importante refúgio para que eles não sejam predados de forma intensa.”
A pesquisadora também destacou que o aquecimento dos oceanos aumenta a temperatura da areia, que acaba influenciando na reprodução das tartarugas marinhas: “Há estudos científicos que mostram que deixar a areia mais quente aumenta a probabilidade de nascer fêmeas. Isso gera um desequilíbrio entre fêmeas e machos, podendo, daqui a alguns anos, interferir inclusive na vida desses animais porque não haverá mais machos suficientes para que essas tartarugas possam procriar”.
O aquecimento dos oceanos também prejudica a osmorregulação (processo de equilíbrio de fluidos com o ambiente) dos animais de sangue frio, como répteis, anfíbios e peixes, pois dependem do ambiente para regularem sua temperatura interna: “Os animais terrestres conseguem se esconder numa sombra, entrar numa toca e, com isso, baixar a temperatura do ambiente em que estão inseridos. Mas quando a gente fala de oceano, esses animais não tem para onde fugir, estão extremamente ameaçados dentro desse contexto de aumento de temperatura oceânica”, como explica Saavedra.
Impactos no clima brasileiro
Por se tratarem de fenômenos climáticos localizados no Oceano Pacífico, o El Niño e a La Niña não afetam a costa brasileira em termos oceanográficos, mas influenciam no clima de todo o país, provocando secas, variações de temperatura e no regime de chuvas. Como o El Niño e a La Niña são eventos climáticos naturais, não há interferência humana direta nestes processos. Entretanto, as mudanças climáticas atuais podem desequilibrar esse sistema, tornando os efeitos mais frequentes e intensos.
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