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Foto do escritorLeonardo Siqueira

A reportagem esportiva contra a cultura do ‘eu acho’

Atualizado: 27 de abr. de 2023

Em evento realizado pela ABI e pela Uerj, convidados discutem jornalismo esportivo e seus principais problemas


Evento realizado na ABI destaca as principais questões do jornalismo nacional

Foto: Leonardo Siqueira


A 1ª Semana Nacional de Jornalismo, promovida pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI) em parceria com a Faculdade de Comunicação Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), debateu presente e futuro do jornalismo no Brasil. Um dos temas de maior destaque foi o papel do repórter na profissão: “O que muda as coisas é reportagem. O resto é enganação”, afirmou Lúcio de Castro, participante da mesa sobre jornalismo esportivo na atualidade.


Referência no jornalismo investigativo nacional, Lúcio de Castro teceu críticas ao momento da profissão e enfatizou a importância da apuração jornalística. Segundo ele, cada vez mais as empresas e os profissionais estão se limitando aos comentários e ignorando o papel do jornalismo de investigação: “Vergonha profunda do não jornalismo que se realiza no Brasil”, declarou. Lúcio ainda criticou a “não separação entre Igreja e Estado” na profissão, ou seja, a maneira como os jornalistas se tornam refém dos direitos de transmissão e de questões comerciais das empresas de comunicação.


Ao decorrer da mesa, os demais debatedores questionaram o atual momento da reportagem. José Trajano, um dos fundadores da ESPN Brasil e um dos principais responsáveis pelo sucesso do canal no país, indagou: “Onde está o repórter?”. Para ele, o jornalismo esportivo, de forma especial, vive um grande problema da cultura do “eu acho”, com a invasão massiva de ex-jogadores no meio jornalístico e a grande quantidade de programas baseados apenas em comentários e opiniões, sem a presença da reportagem. Trajano ainda criticou os “engraçadinhos” inseridos no jornalismo esportivo e a ausência de boas referências para os jovens e futuros comunicadores.


Estudantes da Faculdade de Comunicação da Uerj participam do evento na ABI

Foto: Leonardo Siqueira


O desaparecimento do repórter e a quantidade excessiva de opiniões e ex-atletas seguiram sendo tema do debate. Márcio Guerra, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), acrescentou dados importantes à conversa. Ao criticar a invasão de ex-jogadores sem diploma aos programas e transmissões esportivas, citou o Trabalho de Conclusão de Curso do aluno Gabriel França. Nele, o estudante, utilizando o método de análise do discurso, mapeou o programa “Seleção SporTV” durante o ano de 2022 e computou o tempo de fala dos jornalistas e ex-jogadores. Ao todo, os jornalistas somaram 15 horas e 53 minutos de fala nas mesas de debate, enquanto os ex-atletas obtiveram apenas 4 horas e 31 minutos. Diante disso, Márcio Guerra enfatizou a conclusão obtida por Gabriel França de que os números evidenciam a falta de qualificação e conteúdo dos jogadores nos programas. Até mesmo Afonsinho, ex-atleta e precursor do passe livre no futebol brasileiro, mostrou sua indignação com o número de companheiros de sua antiga profissão no meio jornalístico.


Por outro lado, o crescimento do número de mulheres no jornalismo esportivo foi uma das mudanças na profissão enaltecidas pelos debatedores. Vanessa Riche, narradora e jornalista esportiva, falou sobre os principais momentos de sua carreira e o processo de inserção de mulheres nas coberturas de esportes. Além de ter atuado como narradora no SporTV no início dos anos 2000, Vanessa ainda assumiu o projeto “Narra Quem Sabe”, dos canais Fox Sports, em 2018. A iniciativa tinha como objetivo convocar mulheres para a narração e foi responsável por transmitir jogos da Copa do Mundo narrados e comentados por mulheres pela primeira vez na história da televisão brasileira. As narradoras Renata Silveira e Natália Lara, por exemplo, fizeram parte da primeira edição do “Narra Quem Sabe”.


Por fim, os jornalistas Tadeu Aguiar e Dudu Monsanto voltaram a destacar a importância da reportagem: “Você não se forma para ser jornalista esportivo. Você se forma para ser repórter. Ser jornalista”, disse Tadeu. Dudu Monsanto ainda comentou sobre seu trabalho nas narrações esportivas nas plataformas de streaming e disse que se vê como um dos pioneiros da televisão, que, após o rádio, precisaram se adaptar a um novo momento da comunicação. O narrador teve passagem pelos canais ESPN, a plataforma de streaming DAZN e atualmente trabalha com transmissões do campeonato alemão no OneFootball.

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