Exposição “NOVA” reflete sobre Inteligência Artificial e interação entre obra e visitante
Com mais de 70 obras de arte, a exposição “NOVA Bienal Rio de Arte e Tecnologia” acontece no Museu do Amanhã, no centro do Rio, com a promessa de discutir temas como arte, inteligência artificial e interatividade. O projeto inclui artistas de mais de 30 países, incluindo Brasil, Alemanha e Coreia do Sul. Em sua primeira edição o evento tem como tema a “Nova Estética e Supercriatividade”, proporcionando aos visitantes uma diversidade de projetos artísticos.
Nesta primeira edição, a presença de diversas obras que usam inteligência artificial chamou a atenção. Um dos debates do momento é justamente o uso da IA na arte e se essa produção artística é autêntica ou não. O artista francês/holandês Matthias Oostrik, por exemplo, aborda em seu projeto, intitulado “AllA - The Forgettable Art Machine”, os limites entre a atuação humana e artificial na criação de uma obra artística. A obra usa um sensor conectado a uma instalação de vídeo guiada por IA, que captura os visitantes em um banco de imagens artísticas geradas pelo poder de associação da Inteligência Artificial. Matthias consegue capturar os movimentos e até mesmo uma pose dos visitantes, transformando essa imagem em uma arte criada a partir de elementos existentes.
Banner da exposição “NOVA Bienal Rio de Arte e Tecnologia” (Reprodução: Museu do Amanhã)
João Senna, pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital, afirma que a obra levanta questões da IA como um instrumento para humanos criarem novas formas de expressão ou como um potencial substituto para os humanos. “Ainda não possuímos uma IA real, mas sistemas de predição capazes de gerar materiais a partir de um conjunto de dados em que ela foi treinada e um prompt (textual ou imagético) demandando uma resposta”, explica João. O pesquisador ainda afirma que a IA é apenas uma ferramenta dependente de comandos humanos.
As obras interativas são uma marca da exposição, com monitores auxiliando os visitantes. O professor de fotografia da Uerj Leandro Pimentel afirma que esse tipo de trabalho com participação do público quebra o tradicionalismo de exposições. “Essa oportunidade de interação entre o público e a obra foge dessa ideia tradicional de que o visitante/espectador precisa manter uma certa distância da arte e que a função dele é apenas observar”, explicou. Leandro também destacou na mostra a arte imersiva, sendo aquelas com elementos 3D.
A obra “Xingu Ensemble 3.0” do artista brasileiro Clelio de Paula, se destaca pela mistura da tecnologia com a causa indígena. Graças à realidade virtual, o visitante consegue visitar o território do Xingu e escutar a narração de um indígena acerca da etnia Kuikuro, localizada no Alto Xingu. João Senna explica que a realidade virtual é uma tecnologia que usa os efeitos empáticos e transporta o usuário para um novo ponto de vista. “É algo feito na literatura e no audiovisual para que as sensações e idéias expressas pela obra tenham o maior efeito possível, com situações e locais que nunca teríamos acesso de outra forma”, afirma o pesquisador.
Obra “Xingu Ensemble 3.0” de Clelio de Paula (Reprodução: NOVA Bienal Rio)
Explorando a arte como um amplo espaço de conhecimento e liberdade, a exposição também apresenta elementos de jogos, fotografias 3D e áreas interativas. “Floresta Quântica”, do artista alemão Robin Baumgarten, trabalha com uma parede cheia de molas sensíveis ao toque e milhares de lâmpadas LEDs. “A obra pode iluminar algo sobre suas explicações que as tornam mais fáceis, palpáveis e menos distantes. As sensações geradas pela interação com ela permitem que os conceitos abstratos da física quântica se tornem mais compreensíveis”, explica João Senna.
Outra artista que participa da mostra é a francesa Ines Alpha, criadora do “3D Makeup”. Seu trabalho discute a pluralidade de rostos humanos. Partindo de rostos como telas em branco, ela incorpora elementos digitais que transcendem personalidades, estilos e essências. Essa estética 3D também busca relacionar o mundo real (rosto usado) com elementos virtuais ou tecnológicos (a maquiagem 3D usada). Os trabalhos da francesa são considerados obras de arte da era digital e do mundo virtual.
Leandro Pimentel pontua que as obras de Ines Alpha usam elementos sintéticos para as intervenções e estabelecem a fotografia como imagem de base. “O próprio critério que determina que uma imagem fotográfica precisa ter um purismo se torna falho. Isso está relacionado com a ideia da fotografia com o real. O que é falso, já que a realidade se encontra em movimento e o real é algo parado”, afirma o professor. Leandro também explica que “3D Makeup” promove um debate acerca da nossa autoimagem e como podemos construir ela em diferentes camadas, além da aparência.
“Floresta Quântica” de Robin Baumgarten e “3D Makeups” de Ines Alpha (Reprodução: NOVA Bienal Rio)
A “NOVA Bienal Rio” promove acima de tudo um debate sobre o presente e o futuro, sendo um dos motivos de ter sido realizada no Museu do Amanhã, lugar que aborda a inovação como um passo significativo para a evolução. A interseção entre arte e tecnologia tem sido uma fonte inesgotável de criatividade e inovação ao longo da história. A participação do público, que interage com algumas obras, é algo fundamental na imersão das pessoas com a proposta e as reflexões da mostra.
Disponível até o dia 29 de outubro, a exposição conta com ingressos vendidos presencialmente e virtualmente. A inteira custa R$30, e a meia, R$15. O ingresso é gratuito para acompanhante de pessoas com deficiência, estudantes e professores da rede pública, idosos a partir de 60 anos e crianças de até 5 anos. O benefício da meia-entrada é válido para pessoas de até 21 anos, universitários, estudantes e professores de escolas particulares, PCDs, cariocas e servidores públicos.
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