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  • Everton Victor e Julia Lima

As muitas lutas de Betinho

Sociólogo criador da Ação da Cidadania dá nome ao Banco de Sangue do Hospital Pedro Ernesto


Herbert de Souza na 4° edição Natal sem Fome. Reprodução: Ação da Cidadania


Há 30 anos o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, apareceu na televisão convocando a população a ajudar a resolver o problema da fome no Brasil - 32 milhões de pessoas, pelos dados da época. Ali começava a nascer a Ação da Cidadania Contra a Fome, a Miséria e Pela Vida, um movimento que até hoje luta contra a insegurança alimentar no país.


A Ação da Cidadania foi uma das principais lutas de Betinho, mas não foi a única. Ele nasceu com uma condição chamada hemofilia, que impede a coagulação do sangue. Desde a infância fazia transfusões de sangue frequentes; numa delas ele acabou contraindo HIV, o vírus da Aids. Quando descobriu que tinha o vírus, em 1986, criou a Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia), um dos primeiros centros de estudo da doença no Brasil. Betinho viveu com Aids e enfrentou a doença publicamente, apesar dos estigmas na sociedade.


Por toda a sua luta pelos direitos humanos e pela segurança das transfusões de sangue, Betinho foi homenageado pelo Hospital Universitário Pedro Ernesto e teve o Banco de Sangue batizado com seu nome. O espaço atende pessoas que, como Betinho, recebem transfusões frequentes, e também quem precisa de sangue por causa de emergências e cirurgias. O banco também possibilita transplantes de medula óssea, necessários para pacientes que estão tratando doenças que afetam as células do sangue, como leucemias ou linfomas.


Para a chefe da Hemoterapia do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE), Flávia Bandeira, falar de Betinho e sua atuação nas causas sociais se estende também para seu ativismo como hemofílico. Ela ressalta que Betinho usou sua voz para incentivar as pessoas hemofílicas a buscarem diagnóstico e tratamento o quanto antes. Também defendia a doação de sangue como um ato voluntário importante e que salva vidas.


A professora diz que a humanização dos indivíduos com HIV/Aids, uma bandeira de Betinho, está presente no atendimento do banco de sangue do HUPE. A homenagem reforça a memória e o exemplo dele como alguém que usou sua voz para falar da hemofilia, um assunto marginalizado na sociedade. Em dezembro será inaugurado no HUPE um espaço em homenagem ao sociólogo. E nesta semana o hospital realiza um mutirão de doações, em celebração ao Dia Nacional do Doador de Sangue (25/11).


Banco de Sangue Herbert de Souza. Reprodução: UERJ


Uma vida de lutas


A militância de Betinho começou na adolescência, em Belo Horizonte, quando se juntou a grupos que lutavam contra a ditadura. Perseguido, foi para o exílio, morando no Chile, no México e no Canadá. Em 1979 foi homenageado na música “O Bêbado e O Equilibrista”, de João Bosco e Aldir Blanc. Na canção que se tornou hino da campanha da anistia na voz de Elis Regina, ele é o irmão do Henfil: “Meu Brasil que sonha/Com a volta do irmão do Henfil/Com tanta gente que partiu”.


Betinho também foi um dos criadores do Ibase, Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas, organização que produz pesquisas sobre o país. Com seu trabalho de grande impacto social, recebeu homenagens diversas, da indicação ao Prêmio Nobel da Paz em 1994 ao desfile do Império Serrano em 1996, quando virou tema do enredo “E Verás Que Um Filho Teu Não Foge À Luta”. Betinho morreu em 1997, em consequência da Aids.


A Ação da Cidadania continua sendo uma referência em segurança alimentar e combate à fome, formação de lideranças, apoio comunitário, projetos culturais e empreendedorismo. Sua principal campanha é o Natal sem Fome. O filho de Betinho, Daniel Carvalho de Souza, está hoje à frente do projeto. E, trinta anos depois do surgimento da campanha, os números da fome no Brasil ainda assustam: pelos dados de 2022, 33 milhões de pessoas não têm o que comer.


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