“Vapes podem causas lesões pulmonares e até mortes”, alerta pesquisador da Uerj
Nos últimos anos, tem sido comum encontrar nas mãos de jovens um objeto que de tão pequeno até parece inofensivo, mas que pode trazer vários malefícios à saúde: o cigarro eletrônico. O que muita gente não sabe é que, desde 2009, a importação, a venda e a propaganda de cigarros eletrônicos são proibidas no Brasil pela Anvisa. Mas nada disso impediu que o comércio dos vapes, como eles são chamados, cresça cada vez mais no Brasil. E o principal público-alvo são adolescentes e jovens adultos. Pesquisa da Universidade Federal de Pelotas realizada em parceria com a Vital Strategies mostra que 1 a cada 4 jovens entre 18 a 24 anos no Brasil já utilizou alguma vez o cigarro eletrônico, ainda que ele seja um produto de venda proibida.
Na praia, no shopping, em shows, na internet e em qualquer outro lugar frequentado por jovens, a venda de cigarros eletrônicos acontece sem controle. “Eu não tinha o hábito, mas observava algumas pessoas próximas fumando e me veio a curiosidade de experimentar” afirmou o aprendiz de mecânico de máquinas industriais Raphael Silva, de 18 anos. O jovem também conta que gasta mensalmente cerca de R$75 com o produto e que costuma fumar apenas quando está com os amigos.
Em outubro, a senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS) apresentou o PL 5008/2023 para legalizar o cigarro eletrônico. Ela afirma que estes produtos, mesmo proibidos, acabam sendo vendidos à margem do sistema tributário, o que gera enormes perdas de arrecadação. Na Câmara, não há consenso sobre a proposta. O PL 5008/2023 está disponível para consulta e discussão pública no site do Senado.
Para especialistas e pesquisadores do assunto, o vape, que surgiu como apoio aos tabagistas que gostariam de se livrar do cigarro comum, tem se tornado um vício e prejudicado centenas de jovens. Mônica Andreis, diretora geral Aliança de Controle do Tabagismo (ACT) Promoção da Saúde, afirmou à Agência Senado que os números comprovam que os jovens estão iniciando o fumo com o cigarro eletrônico, e não como substituição ao cigarro convencional, como querem preconizar defensores do produto.
Em entrevista à Agenc, o pesquisador Paulo Roberto Telles, diretor do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas (Nepad-Uerj) explica algumas diferenças entre os produtos. “A princípio, a ideia é que no cigarro eletrônico, muitas destas substâncias tóxicas presentes no cigarro tradicional não estejam presentes. Como por exemplo, os produtos da combustão do tabaco e papel, que estão presentes no cigarro convencional”. Todavia, o pesquisador ressalta que o cigarro eletrônico contém substâncias extremamente prejudiciais, como pesticidas e nicotina. Por isso, o que deveria ser uma forma de ajudar a abandonar a dependência acaba se tornando outro vício. “A nicotina é a principal droga psicoativa tanto no cigarro eletrônico como no cigarro tradicional. Esta substância é a principal causadora da necessidade de continuar o hábito”, afirma Paulo.
Hábito, abstinência e vício caracterizavam a experiência do estudante universitário Felipe Pinto, 19, com o cigarro eletrônico. Ele decidiu abandonar a prática depois de perceber o quanto afetava a sua saúde. “Meus pais estão menos preocupados comigo e me sinto mais livre. É claro que eu sinto falta de fumar todo dia, mas é algo suportável”, afirmou o estudante. Felipe também destaca que depois de ter abandonado o vape, parou de ter crises e infecções crônicas na garganta, pois o uso contínuo havia se tornado um vício. “Quanto mais tempo fumando, mais difícil é largar, até que se torna impossível”. O estudante aconselha os jovens que fumam vape a pararem o quanto antes, se um dia querem se imaginar livres desse hábito.
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