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Foto do escritorMaria Eduarda

Como usar programação e análise de dados no jornalismo

Disciplinas relacionadas a bancos de dados e tecnologia entram na grade do curso da Uerj


Imagem: Pexels


Por que um jornalista precisa entender de análise de dados e programação? Num mercado em transformação, o jornalista cada vez mais se vê chamado a mostrar novas habilidades – entre elas, as relacionadas à tecnologia, como uso de linguagens da programação para a análise de grandes bancos de dados e construção de planilhas para investigar sobre determinada pauta. Um bom exemplo é a reportagem “Covas Rasas e ossos expostos: como é morrer sem nome em SP”, de Marie Declercq, publicada pelo portal Uol. Nas redes sociais, o jornalista de dados Luiz Fernando Toledo conta que participou do processo de apuração da matéria e explica que, para ajudar a repórter, criou um código em Python a fim de analisar os documentos disponibilizados pelo Serviço Funerário do Município de São Paulo. Depois de aplicar o código, o jornalista descobriu que a maior parte das vítimas desconhecidas são homens pardos.


No ambiente universitário, estudantes e professores já discutem a relevância do uso de programação e análise de dados na apuração jornalística. Neste semestre (2023.2), pela primeira vez as disciplinas Jornalismo de Dados e Jornalismo Computacional foram disponibilizadas pela Faculdade de Comunicação Social da Uerj. Lecionadas pelo Fábio Vasconcellos, as disciplinas eletivas receberam um total de 25 e 12 inscritos respectivamente. Ambas relacionam análise de dados e programação com o processo de apuração jornalística.


Novidade na Uerj, a disciplina “Jornalismo de Dados” é obrigatória para os alunos do curso de Jornalismo em outras universidades, como a UFRJ e a ESPM. “A UERJ tem estado um pouco defasada em relação a inovações na área do jornalismo. Hoje não tem como você falar de jornalismo sem falar da parte analítica e pensamento lógico”, afirma Fábio Vasconcellos, professor da Uerj e da ESPM. A disciplina treina os estudantes para analisar bases de dados já disponíveis na internet e, a partir deles, realizar matérias jornalísticas; e é pré-requisito para participar da turma de Jornalismo Computacional.


As atividades das duas disciplinas podem ser complementares, e por isso o professor recomendou aos alunos de Dados a se inscreverem também em Computacional. Na segunda disciplina, as aulas falam do uso de Python, linguagem de programação, com o intuito de analisar grandes bases de dados e obter informações para a construção das reportagens. “Desde o início da graduação, eu ouvia muita gente falando o quanto Jornalismo de Dados e Python são importantes, que ajudam muito na criação de algumas reportagens, e eu não entendia o porquê de não ter esse ensino na grade curricular do curso. Quando vi que abriram turma, corri pra garantir vaga”, diz o estudante do quarto período de Jornalismo Carlos Henrique de Araújo, 24, aluno das duas disciplinas.


Embora Jornalismo Computacional ainda não seja uma disciplina obrigatória em outras universidades, como Jornalismo de Dados, Fábio Vasconcellos a considera de grande importância. “Para o mercado de trabalho é uma competência que pode ser considerada um diferencial. Hoje eu tenho colegas que trabalham em sites como o Quinto Andar, porque essas empresas querem contar histórias a partir de dados.”. Além de ser relevante para o trabalho de um jornalista, saber analisar dados é uma competência importante para qualquer profissional da área da comunicação social. Fábio também afirma que o uso de Python para analisar dados pode fazer parte da rotina um social mídia ao acompanhar as métricas das redes sociais.


No dia 16 de outubro, a jornalista Juliana Dal Piva, colunista do portal Uol e autora do livro "O Negócio do Jair", esteve na Uerj e conversou com os alunos de Jornalismo de Dados e Computacional. Dal Piva, uma das responsáveis pela série de reportagens “Anatomia das Rachadinhas”, vencedora do III Prêmio Cláudio Weber Abramo, contou aos estudantes sobre o processo de apuração e o quanto a análise de dados foi relevante para a investigação. A série revela indícios de que havia um sistema de rachadinha envolvendo a família Bolsonaro desde a época em que o ex-presidente era deputado e descreve diversas operações suspeitas feitas por seus assessores.


Além de contar sobre a sua trajetória profissional, a jornalista deu alguns conselhos sobre a carreira e também explicou aos alunos como agir diante de uma grande base de dados: “Ao ter acesso a dados é importante identificar o que é dado público, pessoal e o que é um dado pessoal que faz parte do interesse público”. Para os estudantes, a conversa ajudou a compreender como os ensinamentos sobre uso de dados funcionam no dia a dia do jornalismo.


Foto: Patricia Soransso

A jornalista Juliana Dal Piva, em audiência pública na CDHM.

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