Epidemia atinge principalmente a zona oeste da capital; especialista da Uerj explica o que a crise climática tem a ver com o aumento de casos da doença
Por Julia Lima e Everton Victor
Reprodução: Freepik
A Prefeitura do Rio de Janeiro decretou estado de emergência na saúde pública na última segunda-feira (5) por causa da dengue: a cidade teve mais de 11.200 casos confirmados este ano, mais da metade do que foi registrado em todo o ano passado. Só em janeiro houve 382 internações, um recorde desde 2008. O secretário de Saúde, Daniel Soranz, afirmou que a cidade vive uma epidemia da doença.
Uma morte foi confirmada na cidade. Em todo o país, foram 40 óbitos, e outros 234 estão em investigação, segundo o Ministério da Saúde. O número representa um aumento de mais de 140% nas mortes em apenas uma semana. Distrito Federal e Minas Gerais são as unidades da federação com mais mortes, 9 em cada.
Para o professor do Instituto de Medicina Social da Uerj e ex-coordenador de Recursos Humanos da OMS Mario Dal Poz, o aumento do número de casos no início do ano já era esperado, por conta do verão, mas não nas proporções atuais. “Entre as hipóteses estudadas que justifiquem o aumento é o calor, que já no inverno foi maior do que o habitual, o que pode ter ajudado os ovos a eclodirem mais cedo”, afirma Dal Poz. A crise climática fez de 2023 o ano mais quente da história, segundo a Organização Meteorológica Mundial. No Brasil, a temperatura média chegou a 24,92°C, ficando 0,69°C acima da média histórica.
A desatenção com mecanismos para a prevenção é outro fator que contribui para o aumento de casos. “Tudo isso depende das pessoas, de intervenções dos entes públicos, da falta de vacinação. Até então, não havia vacina. Esse conjunto forma as condições para que a doença tenha um pico todo verão, além do próprio aquecimento global como a OMS alerta”, afirmou o professor.
Segundo ele, a emergência sanitária decretada no Rio é importante, pois permite que a administração pública tenha capacidade de ação mais rápida que em condições normais. E isso pode ajudar no enfrentamento da epidemia.
Vacinação
A vacina da dengue foi incorporada ao Sistema Único de Saúde em dezembro do ano passado, e em fevereiro deste ano entrou no Calendário Nacional de Imunizações. O esquema de vacinação é dividido em duas doses, com intervalo de 3 meses entre elas. Sem doses disponíveis para toda a população, o Ministério da Saúde decidiu priorizar áreas com maior presença de crianças entre 10 e 14 anos, público que é maioria nas internações, segundo a ministra Nísia Trindade.
A vacina está disponível na rede privada desde o ano passado, mas com preços pouco acessíveis, de R$ 350 a R$ 470 por dose, dependendo do estabelecimento.
Para aumentar a oferta na rede pública, a farmacêutica Takeda, responsável pela vacina Qdenga, afirmou que não fará mais contratos com a rede privada além dos que já estão assinados, mas vai garantir a segunda dose de quem já optou por essa alternativa.
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Infecção e sintomas
A dengue é transmitida pela picada do mosquito fêmea do Aedes aegypti. Os principais sintomas são febre alta, dor de cabeça, pelo corpo e atrás dos olhos, falta de apetite e manchas vermelhas no corpo. Em casos mais graves podem acontecer hemorragia intensa e choque hemorrágico.
O professor Dal Poz reforça a importância de não tomar remédios sem prescrição médica, especialmente os que contêm salicilato (substância presente em remédios à base de ácido acetilsalicílico, a famosa aspirina). Eles podem provocar sangramento, quadro mais grave que ocorre na dengue hemorrágica. Até mesmo tratamentos caseiros devem ser evitados. Em caso de suspeita, o paciente deve procurar um posto de saúde ou, em situações mais graves, um centro de saúde.
No Rio, o maior número de casos está na zona oeste da capital, principalmente nas regiões de Campo Grande, Santíssimo, Guaratiba, Santa Cruz, Paciência e Sepetiba. Por isso, o primeiro de dez polos de atendimento para pacientes com dengue foi inaugurado na região. Os outros nove serão abertos em outras regiões da cidade, de acordo com o aumento da incidência de casos.
Prevenção
Como a dengue não é uma doença que se transmite de uma pessoa a outra (como a Covid, por exemplo), as aglomerações previstas durante o Carnaval não chegam a ser uma preocupação em especial. Por outro lado, a grande quantidade de lixo nas ruas facilita a proliferação do inseto.
Para se proteger da dengue, principalmente nos dias de folia que estão por vir, fique atento para essas dicas:
Use calças e roupas de manga comprida para se proteger das picadas.
Use repelentes à base de DEET (N-N-dietilmetatoluamida), IR3535 ou icaridina nas partes expostas do corpo. Ele também deve ser aplicado sobre as roupas.
Utilize mosquiteiros e telas em janelas e portas. Se possível, dê preferência a ficar no ar condicionado.
Além dessas medidas individuais, outras, coletivas, ajudam no combate à proliferação do mosquito e têm impacto na sociedade como um todo:
Mantenha as caixas dӇgua bem fechadas.
Esvazie e vire garrafas, vasos e potes.
Guarde pneus em locais cobertos.
Evite acumular entulho e sucata.
Coloque areia nos vasos de plantas.
Matéria de excelência, parabéns 👏👏 aos envolvidos.