Síndrome é uma das lembradas na campanha do Fevereiro Roxo, mês que alerta sobre doenças crônicas
Por Julia Lima
Reprodução: Freepik
“Essa dor é besteira.” “É coisa da sua cabeça.” Antes mesmo de qualquer avaliação médica, pessoas que têm fibromialgia ouvem esse tipo de diagnóstico. Fibromialgia é uma doença caracterizada pela sensibilidade maior à dor, sem que essa dor se manifeste em uma ferida concreta ou uma inflamação visível no corpo. Por exemplo: uma dor na perna nunca aparecerá em um exame de imagem como uma tendinite ou inflamação no músculo. Nos exames, é como se a dor não existisse.
A fibromialgia é uma das doenças lembradas no Fevereiro Roxo, mês voltado para a conscientização sobre doenças crônicas, como o lúpus e o mal de Alzheimer. No caso da fibromialgia, os pacientes sofrem com o estigma de uma doença que até pouco tempo era vista como o resultado de dores “imaginárias” dos pacientes. Por muito tempo até mesmo a comunidade médica achou que essa fosse a verdade, até que um estudo recente publicado na revista PAIN, feito a partir de exames de ressonância magnética, mostrou que essas pessoas realmente sentem a dor. O cérebro delas de fato tem sensibilidade maior, como se “o termômetro da dor” estivesse desregulado e ativasse todo o sistema nervoso com qualquer estímulo, por menor que seja.
Além de dores generalizadas, pacientes com fibromialgia podem apresentar cansaço constante, sono não-reparador, problemas de memória e concentração, ansiedade, depressão, dores de cabeça, insônia e muitos outros sintomas, que variam de pessoa para pessoa. Eles podem aparecer depois de traumas graves, sejam eles físicos ou psicológicos, ou até mesmo por conta de uma infecção grave.
Justamente por não apresentar sinais físicos além das dores, a fibromialgia é uma doença de difícil diagnóstico. Não existe nenhum exame que dê com exatidão o resultado, e o reconhecimento da doença vem por meio do que os médicos chamam de diagnóstico de exclusão, ou seja, são descartadas muitas outras doenças até o diagnóstico conclusivo.
Muitos pacientes passam por anos de dor até que possam receber o tratamento adequado. A doença acomete de 3 a 8% da população, e atinge principalmente mulheres entre 30 e 60 anos, mas existem relatos de casos em todas as idades.
Evandro Klumb, professor de Medicina da Uerj e reumatologista do Hospital Universitário Pedro Ernesto, diz que existe a fibromialgia primária, com os sintomas citados acima, e a secundária, que pode estar associada a outras doenças, como artrite reumatóide, lúpus e infecções crônicas, como o HPV e as hepatites B e C. Esta pode ser tratada a partir do controle da doença a que ela está associada.
O tratamento para a fibromialgia envolve o uso de medicamentos, geralmente antidepressivos, além de atividades físicas, acompanhamento psicológico, fisioterapia e acupuntura, tudo ajustado às necessidades do paciente. Para Evandro Klumb, o tripé principal é atividade física, terapia (dependendo de cada paciente) e remédios. Desde 2023, o SUS oferece tratamento completo e multidisciplinar a esses pacientes. O HUPE também oferece acompanhamento, mas para o professor uma Unidade Básica de Saúde bem capacitada é suficiente para bons resultados.
Em 11 estados do país a fibromialgia é considerada uma deficiência. Dessa forma, a pessoa doente pode usufruir de todos os direitos que qualquer outra pessoa com deficiência possui. Em âmbito federal, existem projetos que procuram reconhecer essa mesma condição. No município do Rio, pessoas com fibromialgia têm direito a atendimento preferencial e podem retirar sua carteirinha no site da prefeitura.
Reprodução: Prefeitura do Rio de Janeiro
Fevereiro Roxo
O alerta do Fevereiro Roxo é voltado para falar de doenças crônicas que, como a fibromialgia, não têm cura, mas para as quais há tratamento. A iniciativa teve início em 2014, em Minas Gerais, sob o lema “Se não houver cura, que ao menos haja conforto”.
Reprodução: Freepik
Klumb chama atenção para a importância de falar dessas doenças como “crônicas” ao invés de “sem cura” ao se referir a essas doenças. Para ele, ao dizer que não há cura, adiciona-se uma gravidade exagerada e sem cabimento para doenças que podem ser controladas.
O lúpus se caracteriza por inflamações em vários órgãos causadas por anticorpos em excesso, com períodos de maior ou menor intensidade. Já o mal de Alzheimer se trata de uma neurodegeneração progressiva, e se manifesta pela deterioração da memória e das funções cognitivas. O professor da Uerj destaca que é importante saber que essas doenças existem para que a população seja capaz de reconhecer os sintomas, saber que há tratamento e procurar um médico.
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