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Foto do escritorGabriel Amaro

Futuro dos gramados no Brasileirão: sintéticos continuam no jogo

Manutenção e padrões de qualidade dos campos em foco após decisão da CBF


Foto: Vitor Silva/Botafogo

Gramado sintético do Estádio Nilton Santos, do Botafogo

Na temporada de 2023, os clubes da Série A do Campeonato Brasileiro enfrentaram um total de 741 baixas médicas e as lesões alcançaram uma média de 37 por equipe. América-MG, São Paulo e Goiás lideraram esse ranking indesejável, com 56, 55 e 54 lesões respectivamente, colocando em evidência a situação do Independência. O estádio, casa do recém-rebaixado América-MG — clube com o maior número de lesões —, apresentou condições precárias de gramado, com áreas irregulares e manchas escuras, antes do clássico contra o Atlético Mineiro pela semifinal do Campeonato Mineiro em 17 de março, devido a um evento musical realizado na semana anterior.


Liszt Palmeira de Oliveira, chefe do serviço de ortopedia do Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe) e professor associado da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), explica que distensões musculares são menos frequentes em superfícies sintéticas e aponta um maior risco de lesões da musculatura posterior da coxa em gramados naturais. Ele traz à discussão evidências científicas que apontam para uma incidência de lesões 14% menor em gramados sintéticos de terceira geração, certificados pela FIFA, em comparação aos naturais.


No entanto, Oliveira enfatiza a importância da manutenção adequada das superfícies, independentemente de sua natureza, para garantir a segurança dos atletas. "O risco de lesões é maior nos gramados naturais ou sintéticos de má qualidade, especialmente quando sua manutenção não segue o padrão," destaca o especialista.


A qualidade dos gramados nos estádios brasileiros tem sido um tema recorrente de discussão, especialmente após incidentes como o que transformou o Maracanã em um lamaçal antes da partida entre Fluminense e Olimpia, válido pelas quartas de final da Libertadores, em agosto de 2023, com o gramado sendo usado após duas partidas seguidas do Fluminense e do Vasco. A Conmebol multou o Fluminense em US$ 15 mil (R$ 74 mil) pelo estado do campo na partida.


A situação levou a trocas de acusações entre os clubes rivais e questionamentos sobre a gestão do estádio, temporariamente nas mãos de Flamengo e Fluminense. A necessidade de fechar o Maracanã por 20 dias até a Copa do Brasil para recuperar o campo mostra uma problemática mais ampla relacionada à manutenção dos gramados no país.


Em 2024, a situação não mostrou melhoras significativas, como evidenciado pelo estado do gramado do Maracanã após a reabertura para as partidas do Campeonato Carioca. Os megashows de Paul McCartney e Ivete Sangalo no fim de 2023 — que deixaram o palco montado por cerca de 15 dias, impedindo a recepção de luz solar e o tratamento adequado do campo —, além de uma agenda intensa de jogos e as condições climáticas adversas, dificultaram a recuperação da grama, apesar dos esforços do Consórcio Maracanã. A condição do gramado foi alvo de reclamações por parte de treinadores como Fernando Diniz, Tite e Emiliano Díaz.


Foto: Reprodução/Premiere

Gramado do Maracanã durante partida entre Vasco e Atlético-MG, pela 20ª rodada do Brasileirão 2023, em agosto

Um relatório de maio de 2023 elaborado pela engenheira agrônoma Maristela Kuhn, renomada na área e responsável pelos gramados da Copa-2014, identificou problemas como sombreamento devido à nova cobertura, excesso de jogos, e desgaste causado pelos aquecimentos dos times no campo — elementos que contribuem para a degradação da qualidade dos gramados.


Oliveira aponta para a necessidade de os atletas se adaptarem ao equipamento adequado, como chuteiras específicas para cada tipo de superfície, como medida preventiva. Ele sugere que a solução para minimizar os riscos de lesão passa por evitar a exposição a gramados precários e advoga por uma uniformização dos padrões de qualidade, reforçando a necessidade de uma fiscalização rigorosa.


Segundo o ortopedista, a adoção de gramados híbridos ou sintéticos de terceira geração, aprovados pela FIFA, surge como uma solução potencial, desde que acompanhada de uma gestão eficaz e focada na segurança e no bem-estar dos jogadores.


A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) confirmou que não proibirá o uso de gramados sintéticos no Brasileirão do próximo ano em uma reunião com os clubes da Série A e a Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol (Fenapaf). A discussão ganhou novos contornos com a criação de um comitê específico para debater a questão, sinalizando a possibilidade de futuras proibições, mas sem efeitos práticos para 2024.


A entidade também introduziu uma nova regulamentação que permite aos clubes visitantes o direito de realizar uma sessão de treinamento na superfície sintética na véspera do jogo — uma tentativa de nivelar o conhecimento sobre o gramado e mitigar as desvantagens para equipes não habituadas a essa modalidade de piso.


O debate sobre gramados sintéticos versus naturais no futebol brasileiro reflete divisões entre os clubes da elite. Enquanto o Athletico-PR, Botafogo e Palmeiras se destacam pelo uso de campos artificiais, outros clubes, liderados por figuras como Mario Bittencourt do Fluminense, criticam veementemente essas superfícies pela influência negativa no desempenho esportivo e no aumento de lesões.


A CBF, por sua vez, busca uma avaliação mais aprofundada sobre o assunto, planejando contratar uma consultoria estrangeira e formar uma Comissão de Médicos para um estudo detalhado. Em meio a esse cenário, o tema também ressalta o aspecto financeiro da manutenção dos estádios, com especialistas apontando para os desafios econômicos de preservar gramados naturais de alta qualidade sem comprometer a multifuncionalidade dos espaços.


O caso do Allianz Parque


Foto: Rubens Chiri/São Paulo FC

Ferraresi, um dos jogadores do São Paulo que se lesionaram no Allianz

A discussão sobre o gramado sintético do Allianz Parque se reacendeu após Lucas Moura, do São Paulo, sentir a posterior da coxa esquerda durante o primeiro tempo do clássico contra o Palmeiras, válido pela 29ª rodada do Brasileirão 2023. Essa lesão ocorreu após uma sequência de casos envolvendo jogadores do São Paulo no estádio palmeirense, elevando para cinco o número de atletas tricolores lesionados somente em 2023 após jogos no Allianz Parque. Nahuel Ferraresi, Galoppo, Welington e Rafinha já haviam enfrentado problemas físicos sérios, variando entre lesões ligamentares e no ligamento cruzado anterior.


A situação levou Dorival Júnior, na época técnico do São Paulo, a manifestar sua preocupação, abordando a diferença significativa no desempenho e risco de lesões ao se transitar de gramados naturais para o sintético. Dorival, que já teve experiência com esse tipo de gramado no Athletico-PR, pontuou a desigualdade que representa a mudança de superfície, mostrando uma possível correlação entre o gramado do Allianz Parque e o aumento no número de lesões. 


O Palmeiras tomou a decisão de não realizar mais jogos no Allianz Parque, exigindo que a Real Arenas, empresa ligada à WTorre, responsável pela gestão do estádio, cumpra sua obrigação de manter adequadamente o gramado sintético. Além das questões de segurança dos jogadores, o impasse foi parte de um confronto mais amplo entre o clube e a WTorre, relacionado à divisão de receitas do Allianz Parque: o Palmeiras acusa a construtora de não repassar cerca de R$ 127 milhões devidos.


Depois de quase dois meses de reforma no gramado — que além de vetado pelo próprio Palmeiras foi interditado pela Federação Paulista —, o retorno ao Allianz está confirmado para a semifinal do Paulistão 2024, no dia 28 de março, contra o Novorizontino. Apesar das críticas ao campo, o Palmeiras registrou apenas 26 lesões na temporada passada, ficando entre os times com menos problemas médicos.


Além dos impactos imediatos, Oliveira aborda as preocupações de longo prazo, afirmando que "a repetição de lesões pode levar a condições crônicas degenerativas, como artrose, tendinite, sinovite", o que pode ser agravado por condições inadequadas de prática esportiva. Confrontando a opinião de que gramados sintéticos poderiam aumentar o risco de lesões crônicas ou desgaste articular, Oliveira aponta que não existem estudos conclusivos que avaliem esses riscos a longo prazo em comparação com jogar em gramados naturais de alta qualidade.


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1件のコメント


Paulo Cezar Moraes
Paulo Cezar Moraes
3月28日

Matéria, muito boa!! Excelente qualidade.

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