De cada 10 ataques, 7 vieram de agentes estatais; metade dos casos aconteceu no ambiente digital
Por Julia Lima
O Monitoramento de ataques a jornalistas no Brasil, lançado pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) em 26 de março, mostrou que, em 2023, as violações à liberdade de imprensa no país caíram 30,7% em comparação com o ano anterior. No ano passado, foram registrados 330 ataques, dos quais 121 foram dirigidos a meios de comunicação e imprensa em geral; os 229 restantes vitimaram profissionais diretamente.
Rafaela Sinderski, pesquisadora da Abraji e responsável pelo monitoramento, afirma que sempre devem ser consideradas as subnotificações, ou seja, casos que não foram reportados oficialmente. Essa falta de dados ocorre principalmente por receio da vítima em denunciar seus agressores e reviver um momento de trauma. Além disso, essa discrepância nos números é mais percebida nas regiões Norte e Nordeste, por estarem fora do eixo midiático mais significativo (Sul-Sudeste).
A pesquisadora afirma que, para além da subnotificação, a redução aconteceu pela mudança do cenário político brasileiro e por 2023 não ter sido ano de eleições. A saída de um presidente que apoiava reiteradamente a descredibilização de jornalistas contribuiu significativamente para a queda de casos, segundo o relatório. No entanto, a tendência é que esse ano as agressões voltem a aumentar justamente por ser ano eleitoral novamente, dessa vez da esfera municipal.
Reprodução: Abraji
Capa do monitoramento
Segundo a pesquisa, a principal forma de agressão aos jornalistas são os discursos estigmatizantes, isto é, que buscam tirar a credibilidade de um veículo ou de um profissional. A maior parte dessas agressões, 73,7%, partiram de agentes estatais.
Foram também esses agentes estatais que produziram a maior parte das agressões em geral: 55,7%. Rafaela indica que isso acontece principalmente pela visibilidade e pelo poder que esses agentes têm na sociedade. Com isso, eles buscam se aproximar do seu eleitorado a longo prazo, visando fidelizar votos para o próximo período eleitoral.
O papel das redes sociais
Dos ataques monitorados, 52,1% tiveram início ou repercutiram na internet. A pesquisa no ambiente on-line foi restrita à rede social X/Twitter, e feita a partir da busca de palavras chaves, como “jornalista” e “imprensa”.
A pesquisadora indica que a falta de regulamentação e de diretrizes claras das plataformas estão entre os principais pontos para a quantidade de agressões nesse espaço. Não há monitoramento nem controle do que é postado, criando, segundo ela, uma sensação de impunidade aos agressores.
Ela ainda afirma que esses ataques virtuais afetam não só o trabalho do profissional de imprensa, mas também sua vida pessoal. Eles passam a andar nas ruas com medo de ataques a si e a pessoas próximas, além de passar a adoecer mentalmente por isso.
Importância da denúncia
Rafaela afirma que a denúncia é o principal caminho não só para o debate do tema como para a criação de políticas que defendam a liberdade de imprensa. Para auxiliar nesse momento, ela afirma que a Abraji conta com uma rede de especialistas que estão à disposição dos profissionais de imprensa para ajudar no processo de denunciar qualquer tipo de agressão.
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