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  • Foto do escritorLorrane Mendonça

Pesquisa da Uerj mostra falta de diversidade nas redações de três dos principais jornais brasileiros

Estudo mostra maioria de brancos e baixa participação de pretos e indígenas entre autores dos textos publicados


Reprodução: Internet/ Freepik


Pesquisa do Grupo de Estudos sobre Mídia, Acesso e Ativismo (GEMAA), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), mostra a baixa diversidade de raça e gênero nas redações dos principais jornais do Brasil. Intitulado "Raça, gênero e imprensa: quem escreve nos principais jornais do Brasil?", o estudo lança luz sobre as disparidades nesse âmbito, revelando a dominância de homens brancos, a baixa presença de pretos e pardos, e a quase inexistência de pessoas indígenas e trans. O estudo analisou perfis de autores e autoras que publicam textos jornalísticos nos jornais Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo e O Globo.


No início de 2021, os especialistas do GEMAA foram procurados por profissionais do campo jornalístico ligados à Rede de Jornalistas pela Diversidade na Comunicação. A demanda apresentada pelos profissionais era baseada em suas vivências, indicando que as oportunidades de trabalho, principalmente em veículos de grande circulação e prestígio, não eram igualitárias. Diante dessa provocação, o GEMAA decidiu conduzir um estudo para investigar se a hipótese se confirmava.


Segundo os resultados do estudo, os jornais brasileiros revelaram uma alarmante disparidade racial em suas redações. A maioria esmagadora de 84,4% dos profissionais pertence ao grupo étnico branco, enquanto os pardos representam o segundo grupo mais numeroso, com 6,1%. Os profissionais pretos são apenas 3,4% das redações, seguidos pelos amarelos, que representam 1,8%, e os indígenas, com apenas 0,1% de representatividade.




Os indígenas não foram representados nos gráficos porque só foi identificado um autor desse grupo étnico. Os resultados da pesquisa revelam uma predominância esmagadora de homens brancos como autores, seguidos de mulheres brancas. Homens e mulheres pretos aparecem em menores proporções.


Para realizar o estudo, os pesquisadores selecionaram de modo aleatório 21 edições publicadas em cada veículo durante o período de janeiro a julho de 2021, incluindo três edições de cada dia da semana. O objetivo dessa abordagem foi garantir a cobertura das rotinas de publicações do jornal, abrangendo não apenas conteúdos pontuais, mas também textos diários ou semanais.


Na segunda etapa da pesquisa, o grupo realizou a coleta manual de informações de todas as pessoas que assinaram matérias ou colunas publicadas nas edições da amostra. Os dados coletados nesta fase incluíram o título do jornal, a data de publicação da edição, a página em que o conteúdo foi veiculado, o nome do autor ou autora e o caderno em que o texto foi inserido. Por fim, a pesquisa passou a ter como unidade de análise cada pessoa que participou da etapa anterior. E, para completar o levantamento, foi construído uma base de dados contendo 1226 pessoas as quais foram adicionadas informações sobre gênero, formação acadêmica, ocupação, nacionalidade e idade. Após essa pesquisa, a base de dados foi reduzida a 1.190 nomes, uma vez que foram removidas todas as pessoas sobre as quais não foi possível obter essas informações.


Ao analisar o número de aparições de cada autor, os pesquisadores observaram que a maioria publicou de 1 a 5 artigos, mas os resultados mostram grande disparidade de gênero. As mulheres brancas tiveram maior presença na amostra analisada, seguidas pelos homens brancos e pardos. No caso das pessoas pretas, nenhum homem teve mais de 10 aparições, enquanto as mulheres pretas tiveram presença limitada a um intervalo de 1 a 5 aparições.



A doutoranda em sociologia Poema Portela, uma das autoras da pesquisa, acredita que houve pouco avanço em relação ao cenário encontrado nos primeiros trabalhos feitos pelo grupo nessa temática. “Não podemos ignorar que a pauta tem sido cada vez mais presente nos espaços corporativos, mas ainda assim é necessário olhar com cuidado e honestidade para os quadros internos para que seja possível implementar políticas realmente transformadoras. Caso contrário, vamos seguir com avanços tímidos, que levarão dezenas de anos para chegarmos perto de um quadro realmente equitativo”, explica a pesquisadora.


Num recorte específico sobre textos de opinião dentro dos jornais, o estudo revelou uma marcante predominância branca entre os colunistas, com uma presença alarmantemente baixa de pessoas não brancas. Pessoas não brancas não são nem 10% dos autores analisados. Nos três jornais não foi identificada nenhuma pessoa transgênero. “O maior impacto ao observar a distribuição racial nos maiores veículos de comunicação do país, é ao comparar com a proporção que esses grupos raciais ocupam na população brasileira. A representação dos brancos nos jornais é mais de duas vezes a sua proporção populacional, enquanto a dos pretos é de 0,65 e dos pardos de 0,13, o que é aproximadamente um oitavo da sua participação na população brasileira”, explica Izabele Sá, umas das autoras do estudo.


Segundo Portela, por meio de estudos como esse, é possível identificar de maneira sistemática problemas que, muitas vezes, tendem a ser negligenciados. Para a pesquisadora, é nesse aspecto que reside o maior potencial dessas pesquisas: oferecer um diagnóstico abrangente e embasado, ampliando a compreensão sobre questões que demandam atenção e ação por parte da sociedade. Para ela, ao trazer à tona realidades muitas vezes invisibilizadas, tais estudos desempenham um papel fundamental na sensibilização, na promoção de debates e na busca por soluções que visem a equidade, a inclusão e a justiça social.


"A expectativa que tenho, a partir do momento que publicamos esses estudos é que sejam amplamente mobilizados para pautar mudanças sociais. E não estamos falando de mudanças complexas, né? Estamos falando do mínimo. Nossos trabalhos servem para não deixar dúvida de que, apresentadas as evidências, qualquer postura defensiva sobre agendas de diversidade são uma escolha explícita pela manutenção da exclusão racial, de gênero etc”, aponta Portela.


De acordo com Izabele, uma das possíveis abordagens para lidar com essa situação é a formação de comissões e a implementação de programas de vagas específicas com o objetivo de aumentar a representatividade racial no corpo de jornalistas. Para ela, é essencial investir no desenvolvimento de carreira dos profissionais já pertencentes a esses grupos, visando promover a diversidade racial e garantir a representatividade na veiculação da opinião.



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