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  • Foto do escritorLeonardo Siqueira

Quem são os indígenas da Uerj

Pesquisa busca identificar na comunidade acadêmica estudantes que se veem como descendentes de povos originários

Pesquisa do Nepiie estimulou a união entre estudantes indígenas da Uerj.

Foto: Reprodução/ Nepiie


O movimento indígena se mostra cada vez mais forte no Brasil, e nas universidades não é diferente. Mas a presença dos povos originários no ambiente universitário ainda é invisibilizada. Uma pesquisa da Uerj iniciada em 2015 tenta mapear quem são e quantos são os indígenas da comunidade universitária. O estudo é conduzido pelo Núcleo de Estudos sobre Povos Indígenas, Interculturalidade e Educação (Nepiie) da Faculdade de Educação da Baixada Fluminense (FEBF).


A pesquisa começou quando a professora Kelly Russo, coordenadora do Nepiie, e um orientando do Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Educação e Culturas (PPGCEC) da FEBF começaram a procurar dados sobre os cotistas indígenas na Uerj. No entanto, apesar de haver cotas estabelecidas para indígenas na universidade desde 2003, esses dados não foram encontrados - ou por serem considerados sigilosos pela instituição ou por não estarem organizados separadamente. Todos os dados somavam raça e etnia, sem diferenciar os indígenas, conta Kelly Russo. "O indígena estava sempre escondido e invisibilizado dentro dos dados mais gerais. E essa é a reclamação dos indígenas. Essa é a luta de visibilidade, de reconhecimento”, relata a professora. O levantamento foi interrompido entre 2015 e 2017, e a pesquisa do orientando se voltou para a presença de estudantes indígenas no estado do Rio de Janeiro.


Em 2022, com uma nova orientanda e o crescimento do movimento indígena no Brasil, o levantamento foi retomado. Após consultar diferentes setores da Uerj para a obtenção desses dados, elas tiveram acesso a eles a partir de duas fontes: o Departamento de Articulação, Iniciação Acadêmica e de Assistência e Inclusão Estudantil (DAIAIE - PR4) e o DataUERJ. "Pela primeira vez, eles (DAIAIE) fizeram uma tabela sobre o acesso de cotistas na Uerj entre 2003 e 2020. Nessa tabela, pela primeira vez, eu vi separado, consegui ter acesso a dados sobre cotistas indígenas”, afirma a coordenadora.


No entanto, a professora ressalta que, até 2009, o DataUERJ reunia os dados dos estudantes cotistas negros, pardos e indígenas todos dentro da cota étnico-racial, sem uma devida separação para cada um. Já o DAIAIE, por sua vez, colocava os dados dos estudantes indígenas dentro da cota de deficiência. Ou seja, cada setor da universidade inseria os indígenas dentro de parâmetros diferentes. "Isso chama muito a atenção porque é uma reprodução do que a história brasileira faz, o que o Estado brasileiro faz historicamente (com os indígenas)", comentou Kelly Russo. Só a partir de 2009 é que começam a aparecer dados específicos sobre os cotistas indígenas.


Levantamento identificou a falta de dados únicos dos cotistas indígenas na Uerj

Foto: Divulgação


A partir disso, o primeiro passo da pesquisa foi buscar os dados quantitativos desses universitários em diferentes departamentos: "A gente localizou que existiam, entre 2012 e 2021, 229 cotistas indígenas", relatou a professora. O levantamento identificou que os estudantes estão presentes em todos os centros setoriais da Uerj e em cursos como Direito, Medicina, História e Odontologia, distribuídos nos campi Maracanã, Duque de Caxias e São Gonçalo.


Após a obtenção desses dados, a pesquisa buscou saber quem são os estudantes. A proposta era fazer uma pesquisa-ação, ou seja, convidá-los para participarem do estudo e, através do diálogo, compreender e definir o que é mais importante de ser tratado dentro da Uerj do ponto de vista dos próprios universitários. Foi formado um grupo de, inicialmente, dez pessoas, que participaram de dois encontros no final do ano passado. Apesar dos poucos convites aceitos, algumas pessoas relataram que conhecem outros estudantes indígenas da Uerj, mas que não entraram por cota, e que também foram convidados.


Estudantes realizam primeiro evento do coletivo Yandé Iwí Mimbira

Foto: Reprodução/ Redes sociais


A professora Kelly Russo afirma que diferentes perfis de universitários foram encontrados: indígenas que já estão nas cidades há décadas, alguns que vivem um processo de reconstrução de sua ancestralidade e quem encontra dificuldade de se compreender e se classificar. "A fala deles é muito forte. A dificuldade de se classificar é visível. Uns dizem: ‘eu sou parda, mas se eu tento cota por parda, e tenho um cabelo liso, me dizem que não sou negra, porque parda está vista como negra’. Mas o indígena, é o que então?", questiona Kelly Russo.


A coordenadora ainda destaca a dificuldade de se conseguir obter a cota indígena por causa da burocracia existente no processo. Ela conta que a exigência de um documento da aldeia pode ser um grande empecilho, uma vez que muitos indígenas já saíram de suas aldeias há décadas.


A reunião dos estudantes, a partir deste estudo, levou à criação do coletivo Yandé Iwí Mimbira (“Nós, filhos da Terra” em língua Nheengatu), que surgiu como um espaço de acolhimento e fortalecimento dos universitários indígenas na Uerj. Em março deste ano, o coletivo realizou seu primeiro evento, com debates sobre práticas de inclusão, acolhimento e visibilidade para esses alunos dentro da universidade, além de uma troca de vivências e experiências entre os participantes.


A coordenadora do Nepiie destaca a importância do crescimento do movimento indígena no Brasil e o comportamento da universidade diante disso: "Existem muitas barreiras até que esses indígenas cheguem à Uerj. Depois que chegam, essa invisibilidade é o racismo. A gente precisa desenvolver dentro da Uerj políticas antirracistas para acolher melhor esses indígenas e escutá-los para transformar a universidade." A pesquisa segue em andamento.




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