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  • Leonardo Medeiros

Saúde mental aliada ao futebol

Como o apoio psicológico pode ajudar atletas dentro e fora de campo


O futebol é um esporte bastante midiático e por esse motivo os erros e acertos de um grande atleta sempre serão comentados e veiculados nos grandes veículos de comunicação, muitas vezes até sobre questões pessoais que fogem da sua profissão, como relacionamento e questões familiares. Alguns exemplos dentro da seleção brasileira refletem sobre essa questão, como no caso do jogador Richarlison, centroavante do Brasil que vive uma má fase dentro de campo, sendo bastante criticado pela mídia esportiva. O camisa 9 da seleção brasileira comentou em um dos últimos jogos da amarelinha que problemas pessoais o estavam afetando dentro de campo, que pessoas interesseiras próximas a ele estavam causando problemas em sua vida e que ele já teria se afastado e estaria buscando ajuda psicológica para lidar com essas questões, dentro e fora de campo.


Atacante da seleção brasileira, Richarlison declarou que iria buscar ajuda psicológica. Foto: Reprodução/ Matthias Hangst/Getty Images


Um outro exemplo dentro da própria seleção brasileira é Neymar, tido como principal nome do Brasil dos últimos 10 anos e que recentemente se lesionou durante jogo do Brasil x Uruguai, durante as eliminatórias da Copa do Mundo no dia 17 de outubro. A grande estrela da seleção, e um dos principais nomes do futebol mundial, já vinha sendo criticado pela sua mudança de clube do PSG para o Al-Hilal da Arábia Saudita, mas as maiores críticas são porque o jogador tem um histórico enorme de lesões desde que chegou à França para atuar pelo Paris Saint Germain. Sendo criticado pela mídia especializada e por milhões de torcedores de que essas lesões poderiam ser evitadas se o seu comportamento fosse mais profissional em cuidar do próprio corpo e evitasse o estilo de vida badalado que leva. Nas palavras do próprio jogador ele disse que não aceitaria ajuda psicológica na seleção e de que “não estaria louco”. Segundo o jornalista Cosme Rimoli, o atleta não gostaria que seus problemas emocionais vazassem para o público e a grande mídia.


Para Romulo Reis, doutor em Ciências do Exercício e do Esporte pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e professor substituto no Instituto de Educação Física e Desportos da Uerj, a psicologia do esporte tem um papel importante e fundamental em analisar e melhorar fatores psíquicos que determinam o rendimento esportivo, contemplando toda a área esportiva do futebol e de outros esportes. Além de beneficiar o alto rendimento, se estende para iniciação esportiva, esporte escolar, reabilitação de atletas e projetos sociais. Sem contar que os fatores psicossociais e psicológicos podem ser tratados por um profissional e ajudar também nas questões extracampo que acabam refletindo no esporte de alto rendimento.


Vale ressaltar também que a seleção brasileira foi para a Copa do Mundo de 2022 sem psicólogo na sua comissão técnica. A última vez que o Brasil teve um profissional dessa modalidade no elenco para ajudar os jogadores foi no Mundial de 2014: a psicóloga Regina Brandão, integrando a equipe do técnico Felipão.


Neymar e Rodrygo desolados após eliminação da Seleção Brasileira na Copa do mundo de 2022 - Foto: Reprodução/ Adrian Dennis | AFP


Essa postura não foi a mesma adotada por outras grandes seleções durante o torneio de 2022. Emiliano Martínez, goleiro da seleção da Argentina e atual campeão do mundo, enfatizou como foi importante ter apoio de um psicólogo durante a competição e que isso foi crucial para manter o equilíbrio durante a final.


O futebol segue sendo o esporte mais popular do mundo, com cerca de 4 bilhões de fãs ao redor do mundo, números estimados pelo banco de dados Statistics & Data. Essa modalidade esportiva cativa metade da população do globo, arrasta fãs dos 4 cantos do mundo para acompanhar os jogos dos seus times do coração e é a porta de entrada de muitos jovens na carreira profissional como atletas de alto rendimento.


Sendo um esporte tão assistido, comentado e influente no mundo inteiro, é claro que é também muito rentável. O futebol movimenta aproximadamente US$ 286 bilhões por ano (cerca de R$ 1.410.750.000.000 de reais), alcançando US$ 45 bilhões (cerca de R$ 222.750.000.000 de reais) em receita anual dos clubes, segundo dados de 2022 divulgados por Gianni Infantino, presidente da Federação Internacional de Futebol (Fifa), em debate na Organização Mundial do Comércio (OMC). Seu ganho advém principalmente dos patrocínios de televisão e propagandas de marcas nas camisas.


Apesar de tanto investimento e de tanta audiência, os atletas ainda vêm de estruturas sociais precárias, com pouca ou nenhuma informação sobre o cuidado com a saúde mental, com a maioria tendo origem humilde e não compreendendo a importância do cuidado psicológico. Para Rômulo, a fama e a fortuna podem subir à cabeça desses jovens e os fazer sentirem-se muito poderosos, negligenciando ou não sabendo lidar com momentos de fraqueza. Porém, segundo ele, o apoio psicológico os ajuda a se manter concentrados, a focar nos resultados e no seu rendimento esportivo. Tendo em vista que todo bônus que sua carreira carrega veio através do seu rendimento como atleta, então se descuidado, ela pode acabar mais cedo do que imagina. Essa negligência se dá também com o descaso com o próprio corpo, como a prevenção de lesões aliada a um comportamento condizente com um atleta de alta performance.


Para o professor, a questão midiática é outro fator importante que afeta os atletas e que corrobora a questão de que o futebol deveria ser aliado do acompanhamento psicológico. Segundo ele, muitos jogadores tentam separar a vida dentro de campo da vida fora do campo e não conseguem. A ajuda de um profissional também entraria nesse sentido de saber organizar os papéis e ajudar os(as) atletas a terem saúde mental para lidar com os “dois mundos” e saberem se preservar.


Em relação à aceitação do apoio ou não por parte dos atletas, o professor afirma que o esporte reflete a sociedade e segue as suas tendências. Isso quer dizer que, se há um estigma social em aceitar apoio psicológico, isso acaba se refletindo também nos esportes de alto rendimento e nos atletas. "Hoje eu vejo talvez uma certa recusa natural de qualquer ser humano, que acha que não precisa, que entende que não tenha essa necessidade e que muitas das vezes fica envergonhado e que associa a isso de ‘não estou maluco’. Isso pode acontecer, mas entendo que seja uma falta de conhecimento. Com um pouco de vergonha e timidez. Por parte do ser humano que está por trás do atleta.”


A solução sugerida por Romulo, seria de que os atletas tivessem um apoio maior por parte de suas assessorias e no seu entorno e é claro de que tivessem auxílio dos profissionais ligados à saúde mental e aliados ao esporte. Além disso, que o ambiente dos clubes e seleções fosse mais amistoso com seus profissionais, que ouvissem suas demandas e seus anseios, que tratassem as suas particularidades e que se mantivessem unidos, se blindassem das influências negativas à sua volta, sejam da mídia ou dos adversários, e que se dispusessem a cuidar dos que fazem parte da comissão e do time. “Se a seleção brasileira quiser ser top 5 do mundo ou top 10, ela não pode deixar de ter um psicólogo na comissão técnica. Ainda mais porque não faltam recursos financeiros para isso. Se não existe o profissional é por uma questão de descaso", completou o professor.


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