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Foto do escritorLeonardo Siqueira

Sintético ou pasto?

Clubes brasileiros sofrem com o desgaste dos gramados e campo artificial aparece como melhor opção para manutenção


Foto: Reprodução/ Alexandre Cassiano

Leo Jardim, goleiro do Vasco em jogo contra o Atlético-MG, no Maracanã



Um espetáculo, para que seja devidamente apresentado, requer certos preparos para sua execução. Com o futebol também é assim. O gramado é o grande palco deste show e precisa estar em condições adequadas para a prática do esporte, especialmente em alto nível, e para a segurança dos atletas. Porém, no Brasil, diversos desses palcos não condizem com o espetáculo do futebol.


Os gramados ao redor do país sofrem com o número de jogos, a falta de manutenção adequada e até mesmo com o número de eventos realizados nos estádios. O Maracanã, por exemplo, que irá receber a final da Copa Libertadores deste ano, precisou ser fechado para a reforma do gramado, que já apresentava estado crítico.


José Veiga Filho, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e pós-graduado em Ciência e Técnica do Futebol, destaca que a condição do campo é essencial para o jogo e a qualidade do espetáculo. Ele ressalta que um terreno irregular afeta diretamente na execução técnica dos atletas, como na dificuldade de dominar e controlar a bola, pois ela fica “viva”, quicando no gramado. Para ele, esse cenário também afeta no equilíbrio de um confronto entre equipes de diferentes níveis, já que o melhor time não conseguirá desenvolver seu jogo de forma adequada em um gramado ruim.


Além disso, o campo pode interferir na integridade física dos atletas. De acordo com o professor, gramados em más condições aumentam o risco de lesão dos jogadores, especialmente de entorses: “Quando pisa num terreno irregular, a tendência é causar entorse, principalmente de tornozelo e joelho”, declara.


Por que há tantos gramados irregulares no Brasil?


Veiga destaca o calendário do futebol brasileiro e o número de jogos como os principais responsáveis pelos estados dos gramados em todo o país: “Não tem gramado que resista a essa sequência de jogos.” Para ele, não há um tempo adequado para a recuperação do gramado entre as partidas, o que influencia diretamente em sua qualidade.



Foto: Emanuelle Ribeiro

Gramado do Maracanã após forte chuva no duelo entre Vasco e Atlético-MG




Além do elevado número de jogos do futebol brasileiro, muitos estádios recebem partidas de dois ou mais clubes, o que colabora ainda mais para o desgaste do gramado. O Maracanã, novamente como exemplo, recebe jogos do Flamengo e Fluminense, e também já recebeu do Vasco neste ano. No dia 19 de agosto (sábado), o Fluminense enfrentou o América-MG no estádio, às 18h30m. Na manhã seguinte, também no Maracanã, o Vasco jogou contra o Galo, às 11h, sem tempo para a recuperação do gramado. Com a “ajuda” da chuva, essa sequência de partidas colaborou para escancarar de vez as péssimas condições do gramado do estádio.


A Arena Castelão, a Arena Independência e o Estádio do Mineirão são outros exemplos de palcos que sofrem com o desgaste e a sequência de jogos de duas ou mais equipes. Diante disso, o professor chama atenção para a estratégia que muitos clubes estão adotando para ter um gramado de melhor qualidade: a grama sintética.


Caiu no tapetinho?


Athletico-PR, Palmeiras e Botafogo. Esses são os clubes que adotam o campo artificial na elite do futebol nacional, com diferentes tecnologias e todos homologados pela Federação Internacional de Futebol (Fifa). A entidade permite o uso da grama artificial em competições oficiais desde 2001, e todos os campos são testados e avaliados por critérios como segurança, durabilidade e garantia de qualidade.


O Programa de Qualidade da Fifa define o que é permitido e orienta sobre aquisição, instalação, testes e manutenção. Ele ainda se divide em níveis e qualifica os gramados em Fifa Quality Pro, para o futebol profissional com o uso de até 20 horas por semana, e Fifa Quality, voltada para a prática amadora e recreativa do esporte.


Os campos sintéticos apresentam maior durabilidade e são capazes de suportar uma utilização mais intensa do que os naturais. Além disso, a grama sintética não depende de condições climáticas para o crescimento das plantas e é de fácil manutenção.



Foto: Reprodução/ Vítor Silva/ Botafogo

Gramado sintético do Estádio Nilton Santos, do Botafogo



Para Veiga, o gramado artificial é uma opção para quem busca melhor manutenção do campo, mas há diferenças se comparado à grama natural: “Fica um jogo diferente, a bola corre mais, há um desgaste maior. É outro tipo de jogo”, explica. Para ele, o avanço tecnológico já diminuiu a diferença entre os dois tipos de gramados. O campo do Botafogo, por exemplo, possui tecnologias como sistemas de irrigação automatizados, que auxiliam a manter a temperatura da grama em níveis ideais, e um sistema de drenagem resistente a temporais.


Ainda assim, Veiga declara que os clubes com um campo sintético levam uma pequena vantagem em um confronto pelo fato de já estarem acostumados com o estilo e a velocidade do jogo diferentes da grama natural.


A escolha de um gramado


De acordo com a Fifa, o tipo de gramado a ser utilizado pode variar dependendo dos recursos e objetivos de cada projeto. Condições geográficas, climáticas e estruturas do estádio, como telhado e arquibancada, devem ser levadas em consideração na escolha do projeto. Diante disso, há três tipos de gramados possíveis: 100% natural, 100% artificial ou híbrido (mistura de grama natural e sintética).


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